Páginas

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O "Mal" na concepção da Narrativa da História de Sansão!

Um dos maiores filmes produzidos pelo cinema americano foi Sansão e Dalila de 1949, o filme contava com os atores mais belos de Hollywood daquela época, Victor Mature como Sansão e a lindíssima Hedy Lamarr como Dalila, o filme também foi um marco no cinema por causa da revolucionaria tecnologia de cor para o cinema.
Samson and Delilah original 1949 poster.JPGO filme conquistou o público em geral e acabou por tornar conhecido mesmo por quem nunca leu a bíblia, esta grande história, e mesmo quem nunca foi religioso, pode conhecer todos os nuances desta história.

Frequentemente sou questionado sobre as histórias bíblicas se realmente aconteceram ou são metáforas repletas de ensinamentos. 
Penso que na maioria das vezes são as duas coisas. Sansão é um destes exemplos.
Vários trabalhos históricos já foram publicados dando conta que o personagem Sansão realmente existiu.
Numa época aonde as guerras dependiam exclusivamente da força física, havia um guerreiro extraordinariamente forte que era o fiel na balança para que os Israelenses mantivessem sua independência.
Mas o texto bíblico e a forma como foi redigido é propositalmente preparado para servir de ensinamento, isto acontece porque os livros que compõe a bíblia muitas vezes relatam fatos históricos, mas quando isto acontece eles tem o propósito de que tais fatos tragam ensinamentos pessoais e espirituais para os leitores.
Sendo assim, tenho certeza que Sansão foi um personagem real, mas a narrativa bíblica do livro dos Juízes narra a história deste personagem visando que esta história sirva de ensinamento e tenha lições de vida para os leitores.
Na verdade é incrível como os textos bíblicos tem tantos ensinamentos em poucas palavras, e a narrativa de Sansão é repleta de questões que saltam diante de nossos olhos. 

O texto do livro dos Juízes a partir do capítulo 13 começa a narrar a vida de Sansão, em linhas gerais ele foi consagrado a Deus por seus pais e o simbolo deste pacto com o Criador era que o cabelo de Sansão nunca seria cortado desde a sua infância.
Naquele período histórico os Filisteus viviam aonde hoje é a faixa de Gaza, os historiadores dão conta de que eles tinham tentado invadir o Egito mas foram derrotados e acabaram vivendo exprimidos na faixa de Gaza quando passaram a tentar tomar o território aonde viviam os Israelenses.
Desorganizados e frágeis os Israelenses passaram a perder território para os Filisteus, foi quando Sansão surge na narrativa Bíblica como juiz de seu povo, sua força física era descomunal e desequilibrava todas as vezes que os Filisteus e os Israelenses se enfrentavam. Ele tirava toda a vantagem numérica e bélica que os Filisteus tinham por sua força brutal.
O texto conta que Sansão tornou-se herói nacional e passou a liderar seu povo. Contudo ele tinha um fraco por mulheres bonitas, seu pai o advertiu mas ele acabou nos braços de uma mulher lindíssima chamada Dalila.

Neste momento o texto nos lança numa visão sombria, aonde a vaidade de Sansão causa sua ruína.
É o momento em que o texto nos revela o "Mal". Não apenas nos revela o "Mal" como também estabelece conceitos e consequências de sua voracidade.
De forma metafórica o texto do livro dos Juízes que conta a história de Sansão nos revela a ação do mal, e toda a devastação que causa. A narrativa de Sansão nos dá subsídios para formatar ideologias e conceitos sobre o próprio "Mal".

O Mal Revelado

No capítulo 16 encontramos o momento em que Dalila finalmente descobre de onde vinha a força de Sansão, ela então o trai, e este é o ápice desta narrativa.


" Vendo, pois, Dalila que já lhe descobrira todo o seu coração, mandou chamar os príncipes dos filisteus, dizendo: Subi esta vez, porque agora me descobriu ele todo o seu coração. E os príncipes dos filisteus subiram a ter com ela, trazendo com eles o dinheiro.

Então ela o fez dormir sobre os seus joelhos, e chamou a um homem, e rapou-lhe as sete tranças do cabelo de sua cabeça; e começou a afligi-lo, e retirou-se dele a sua força". Juízes 16:18-19.

É uma cena carregada de crueldade. Dalila seduz até descobrir seu segredo. Num falso carinho faz ele dormir em seu colo, para poder lhe cortar os cabelos, e tudo isto por dinheiro, ela se vendeu, vendeu seu amor, vendeu seu amado. É o dinheiro já naquela época (cerca de 1700 anos antes de Cristo) sendo retratado como sedutor e mortal. 
Interessante notarmos também que a Dalila do texto foi retratada de forma diferente no filme que mencionei. Dalila no filme de 1949 toma este ato de trair Sansão mas estava titubeante, indecisa, dividida, mas acaba traindo Sansão; mas a Dalila conforme o texto é fria e calculista.
Convêm lembrar que o "Mal" é retratado no livro do Gênesis como a serpente, porque tem sangue frio, esta frieza sociopata é característica do mal.

Ego destrutivo - Antes deste ápice do trama de Sansão no capitulo 16, o texto nos revela de forma evidente a vaidade destrutiva, Sansão queria para sí a mulher mais bonita, mas nem sempre a mais bonita é a mais bonita de alma.
Sansão foi repetidas vezes alertado por seu pai, mas o bom senso se calou diante do seu ego e ele acabou se perdendo nos braços de Dalila.

Falta de privacidade como fator destrutivo - Quando chegamos neste capitulo 16 percebemos que além de ceder ao ego, Sansão conta o que não deveria. Ele confidenciou seu segredo para Dalila.
Interessante que nestes tempos de "Facebook" e outros sites de relacionamento, em que expomos exageradamente nossa vida em páginas da internet, o texto nos revela que quando falamos de mais, abrimos uma janela para o inferno de destruição. 
O mal que surge quando não sabemos guardar segredo, é uma lição a muito esquecida nestes tempos de perda da privacidade, que não podemos contar nossos segredos mais preciosos pra qualquer pessoa. O excesso de exposição de nossas vidas pode nos trazer destruição.

O Mal tira nossas forças - Então Sansão permitiu que o mal chegasse até sua vida por causa do seu ego e por falar de mais, e ainda no final do verso 19 o texto diz que sua força se foi.
É outra forma de denunciar e descrever a ação do mal conforme esta narrativa, o mal que mina nossas forças, foi nesta mesma intensão que o Irlandês Bram Stoken escreveu seu livro "Drácula", o conde que chupa sangue é uma metáfora do mal que tira nossa força vital. Na narrativa de Sansão no momento em que seu pacto com Deus é quebrado com o corte do seu cabelo, sua força se vai, é a mesma metáfora do mal que tira de nós força e vigor.


"Então os filisteus pegaram nele, e arrancaram-lhe os olhos, e fizeram-no descer a Gaza, e amarraram-no com duas cadeias de bronze, e girava ele um moinho no cárcere". Juízes 16:21

O Mal cega - Seus olhos são arrancados, a narrativa dramática procura evidenciar outra característica do agir do mal, o mal cega. 
Quantas e quantas vezes sabemos de histórias ou nós mesmos não percebemos a cova que está sendo cavada diante de nós para que caiamos nela, é realmente impressionante como o mal nos cega, em geral só nos damos conta das coisas ruins quando elas já atingiram um ponto de total destruição.

O Mal nos aprisiona - Colocaram correntes e cadeias em Sansão aprisionado dentro de um carcere. Em seguida surge a figura dele empurrando uma pedra de moinho.


O Mal nos faz andar em círculos (Não saímos do lugar apensar do muito esforço) - Esta é outra visão muito interessante, a pedra de moinho era uma pedra redonda e outra pedra redonda era rolada para triturar os grãos de trigo que eram deitados sobre a primeira pedra.
Mas a metáfora é fantástica porque se Sansão ficava empurrando uma pedra desta, significava que ele fazia grande esforço, mas andava em círculos.
Esta é outra metáfora muito bem construída de como o mal age. O mal nos faz andar em círculos, apensar do grande esforço, nossa vida não sai do lugar.

O Mal nos humilha - Por fim Sansão é levado para templo dos Filisteus para ser humilhado diante da multidão dos seus inimigos conforme nos narra o final deste capítulo 16.
Esta também é uma metáfora da ação do mal, depois de nos cegar, de nos fazer andar em círculos e apesar de tanto esforço não sair do lugar, o mal nos humilha.
A humilhação pública é a conclusão do processo quando, segundo a narrativa da história de Sansão, o mal nos leva ao fundo do poço.

Deus nos resgata - No final da história, Sansão clama a Deus enquanto era humilhado, pedindo para que sua força volte.
Deus se compadece lhe ouve e devolve sua força. Sansão então vendo que sua força voltou empurra as colunas do templo, que era no formato de um estádio. Ele consegue derrubar duas colunas e o efeito dominó faz com que todo o templo desabe, matando toda a elite do povo Filisteu que tinham ido até lá para assistir a humilhação de Sansão.
É também uma cena carregada de simbolismo e metáforas, mas por hora vamos nos ater ao fato de que a mensagem básica da morte de Sansão é que quando clamamos a Deus, Ele nos livra desta energia negativa e destrutiva que chamamos de "Mal", e ainda que seja na morte o "Mal" será derrotado se buscarmos o Criador.

Concluindo

O "Mal" é o conceito de uma força destrutiva, mortal, arrasadora, uma energia negativa, aonde não há esperança nem perspectiva. É o antagonismo de Deus, enquanto Deus é luz, amor, vida, paz, etc. o "Mal" é a escuridão, trevas, abismo, morte.
Nesta narrativa de Sansão percebemos duas atitudes de Sansão que foram a porta de entrada do mal em sua vida.
Porque o mal atingiu Sansão? Assim também perguntamos porque o mal atinge nossas vidas?
No caso de Sansão foi a vaidade excessiva, o ego exageradamente exacerbado, e a falta de zelo por sua privacidade, falou de mais pra quem não deveria.
Depois o texto nos narra o que acontece quando alguém permite que este "Mal" lhe atinga.
Perdesse a força, não se percebe o que está acontecendo, perdesse a liberdade, fica andando em círculos sem sair do lugar apesar do esforço, e por fim a humilhação dos estranhos.
A história nos serve de alerta para identificarmos as brechas que podemos estar dando para que esta energia ruim venha nos atingir; e se caso já estivermos sofrendo com esta força tão obscura, Sansão nas dá a lição de clamarmos a Deus, numa menção que devemos buscar espiritualmente a luz do Criador e toda sua bondade. Porque aonde a luz chega a escuridão vai embora.

  

Nenhum comentário:

Postar um comentário