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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

A Culpa é das Estrelas

"A Culpa é das Estrelas" foi uma grata surpresa.

Na igreja sempre temos muitos adolescentes e existe a preocupação constante de que eles tenham uma boa influência do ambiente cristão, mas comunicar com esta galera nem sempre é fácil, a melhor estratégia e estar antenado com aquilo que eles estão vivendo, e dentro desta tarefa, não suportava mais aquelas incansáveis produções toscas, com histórias tolas e heróis bizarros. Foi quando me deparei com este drama romântico, que soube ser ao mesmo tempo comercial e profundo.



Mas a grata surpresa não se resume ao fato de que um autor se propôs a escrever algo mais inteligente para tal público, a grata surpresa acontece quando pudemos constatar o sucesso de um livro que é inteligente, e isto significa que por mais que a mídia tenha tentado transformar o cérebro de jovens e adolescentes mundo a fora em algo esponjoso que absorve qualquer porcaria, a verdade é que a garotada sabe reconhecer a qualidade. Vitória dos neurônios!

"A Culpa é das Estrelas" me fez recordar um filme super premiado de 2009 que curti muito e me estimulou a fazer uma postagem neste meu blog. Trata-se de "O Sr Ninguém" que recebeu trinta prêmios internacionais.
//eradaincerteza.blogspot.com/2014/09/deus-e-o-sr-ninguem.html

"O Sr Ninguem" conta sobre um homem que vivia paralelamente diversas realidades que variavam conforme as escolhas e os caminhos que ele tomava, e vivia simultaneamente cada caminho que cada uma de suas escolhas gerava.

Mas o que este filme tem a ver com "A Culpa é das Estrelas"? Acontece que ambos orbitam o mesmo tema, que é o grande dilema humano sobre se em nossa vida somos nós que determinamos nosso futuro através de nossas escolhas, ou se nossa vida está toda previamente pré determinada.

Esta é uma questão antiga que aparece na filosofia, nas diversas manifestações religiosas, e na cultura geral. Por vezes somos confrontados com a perspectiva que nosso futuro depende de nossas escolhas, mas por vezes somos levados a crer que tudo faz parte de um enredo previamente escrito ou pré determinado por um destino, ou mesmo uma divindade. E mesmo aqueles que não acreditam em nenhuma força inexplicável, muitas vezes acreditam que somos alvos de fatalidades, e estas fatalidades são na verdade probabilidades matemáticas de um mundo de situações em que estamos inseridos.

O cristianismo vive intensamente estas duas correntes, na época da reforma protestante por exemplo, havia um reformista João Calvino que defendia que Deus estabelece previamente nossa salvação ou nossa perdição, enquanto outro reformista chamado Jacó Armínio defendia que somos livres e nosso destino defende de nossas escolhas. Mas este dilema não é privilégio dos evangélicos, diversos pensadores católicos (tanto romanos como ortodoxos) divergem dentro da mesma perspectiva.

Em 2014 "A Culpa é das Estrelas" chegou ao cinema, (o livro fora lançado em 2012), e não se pode negar que é um filme bastante comercial, mas convenhamos não poderia ser diferente, não se pode exigir do público "Teen" o apresso por um filme "super cabeça" como foi o "Sr Ninguém" por exemplo, mas este aspecto comercial não tirou da obra seu valor.


A Culpa é das Estrelas
Escrito por John Green "A Culpa é das Estrelas" aparentemente tem um enrodo muito simples, fala de dois adolescentes que vivem doenças terminais e se apaixonam um pelo outro. Mas com o desenrolar da trama, podemos perceber que cada um deles lida de forma muito diferente com sua situação.

"A Culpa é das Estrelas" percebe estas chamadas "fatalidades", e fica evidenciado que a despeito das "fatalidades", depende de nós decidirmos como lidamos com estas situações, e estas escolhas é que definem como viveremos durante o tempo que passamos nesta existência.

Como disse, as chamadas "fatalidades" são na verdade probabilidades estatísticas. Existe na vida "tantos por cento" de chance de sermos atingidos por uma doença rara, fatal e incurável, e quase ninguém se dá conta de que algumas pessoas que estão neste ínfimo "tantos por cento" sofrem a "fatalidade" de serem eles as vítimas.

Como mencionei na postagem sobre o "Sr Ninguém", a trilogia "Matrix" apresentou um personagem chamado " O Arquiteto", e este é uma visão tosca aonde Deus surge como alguém que administra um universo de probabilidades para que sua vontade sempre prevaleça.

Estatística ou não, "fatalidades" são imprevisíveis e cabe a nós decidirmos como valos lidar com elas. E está é a perspectiva bastante inteligente apresentada em "A Culpa é das Estrelas".

Mas existe um outro aspecto, e este pôde ser percebido no longa "Sr Ninguém" e também foi abordado de forma bastante inteligente em "A Culpa é das Estrelas" que é o fato de que nossas escolhas são na verdade reflexo de quem nós somos. Porque não se trata de como "escolhemos" reagir as fatalidades porque no fundo não fazemos escolhas, os caminhos que tomamos em nossas vidas são apenas o reflexo de quem nós somos.

Dentro deste aspecto recordo que Jesus nunca falou em escolhas. Alguns podem até pensar que este é um sinal claro de que tudo já está pré determinado. Mas não se trata disso, até porque o Apostolo Paulo diz que "Tudo que o homem plantar, isto também ceifará" (texto de Paulo aos Gálatas cap. 6 verso 7), então o que se percebe na doutrina do evangelho conforme  o registro, é a consequência das escolhas, ou a consequência das atitudes e não o pré determinismo. Mas porque afinal Jesus nunca falou sobre escolhas? Porque como disse, não se tratam das escolhas, mas de nossa identidade.

Jesus nunca falou de nossos dilemas dentro da ideia de que temos que escolher, mas Ele sucessivamente mencionou a necessidade de mudarmos nossas vidas, e fazia isso sem mencionar que temos que escolher este ou aquele caminho, pois Cristo trabalhava este tema na perspectiva de que temos que "Nascer de novo".

Na verdade o registro da bíblia da a entender que Jesus falava isso o tempo todo, tanto Mateus, quanto Marcos e Lucas registram que Jesus falou em "negar-se a si mesmo", enquanto João menciona que Jesus disse que era necessário "nascer de novo". João e Marcos também registram que em outro discurso Jesus disse que "quem quiser salvar sua vida perde-la-á". Todas estas palavras estão dentro da visão de que não fazemos escolhas, elas são simplesmente reflexos de quem somos, e só poderemos tomar caminhos diferentes se mudarmos nossa maneira de "ser".

O filósofo grego Sófocles, que viveu antes de Sócrates, disse que "nenhum homem pode fugir do seu destino", e esta frase pode ser verdadeira não porque não existam escolhas, mas sim porque não faremos escolhas diferentes daquilo que somos. Então faz sentido aquilo que Jesus disse, porque só poderemos fazer escolhas diferentes se formos pessoas diferentes.

Em "A Culpa é das Estrelas", como disse, podemos perceber, (principalmente no livro), fica evidente que a forma como cada um deles lida com a fatalidade é muito diferente porque é na verdade o reflexo da personalidade de cada um.  John Green também demonstra que não se tratam apenas de como cada um deles escolheu reagir ao problema, mas isto é consequência de como cada um deles "é".

Há ainda um outro aspecto, e este não aparece em "A Culpa é das Estrelas" que é o fato de que muitos acreditam que nossa forma de "Ser" atrai determinadas "fatalidades" e é lógico que não isto que acontece no livro em questão, mas apenas para desmitificar um pouco o fato de que nem tudo realmente são fatalidades,

Antigamente apenas os espiritualistas acreditavam que nossa identidade atraía determinadas situações, mas hoje mesmo muitos cristãos entendem que este não é um discurso apenas do âmbito da doutrina espírita, porque hoje sabemos que nosso corpo vibra, e nossa energia vibra, porque somo energia transformada em matéria, e o que dita a frequência desta vibração tem a ver diretamente com nossa identidade. De maneira que pode haver sim alguma lógica na ideia de que atraímos certas coisas mediante o fato de que estamos sintonizadas em determinada frequência e entramos em sintonia com determinadas situações. Então nem tudo o que chamamos de fatalidade realmente é fatalidade, talvez seja o reflexo daquilo que queremos, ou a colheita daquilo que estamos plantado.

Como disse, este não é o caso de "A Culpa é das Estrelas" mas se nossa forma de "ser" influencia a incidência de fatalidades sobre nossas vidas, então realmente tudo passa pelo nosso "ser". Fato este que torna a vida mais profunda e complexa porque a chave está no auto conhecimento e na percepção de quem realmente somos. E no caso de avaliarmos que precisamos "ser uma nova criatura" esta é certamente uma tarefa divina.

















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