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domingo, 24 de março de 2013

"Ser ou não ser, eis a questão" - Um ensaio sobre o dilêma proposto por William Shakespeare no texto de Hamlet

"To be or not to be". "Ser ou não ser eis a questão".

O Britânico William Shakespeare foi um dos maiores, se não o maior, teatrólogo e dramaturgo que já existiu, autor de grandes peças, histórias incríveis, cenas memoráveis, e de frases inesquecíveis. Mas uma destas frases conquistou uma repercussão nunca dantes vista num diálogo teatral, trata-se do monólogo do personagem Hamlet, quando ele profere: "Ser ou não ser eis a questão". Tanto é assim que este texto de Shakespeare já recebeu incontáveis adaptações para o teatro, e para o cinema, talvez uma das peças mais encenadas em todo mundo.

A famosa frase surge durante o desenrolar do drama do personagem Hamlet, na peça "A Trágica História de Hamlet, Príncipe da Dinamarca" escrita em Londres entre 1599 e 1607. Mas quando tomamos conhecimento da história que envolve esta peça, percebemos que Shakespeare redige o dilema do seu personagem dando uma amplitude maior. O dilema "Ser ou não ser" ultrapassa em muito o dilema proposto na história da peça.

Isto nos da margem a acreditar que Shakespeare estava dando uma conotação mais profunda ao momento proposto por ele quando desenvolveu a trama, exite aqui um significado que precisa ser abstraído; e é normal que seja assim pois todos os grandes gênios da humanidade falavam muito mais do que as simples palavras.

Os textos de Shakespeare não são simples peças com o intuito de divertir ou mesmo novelas contadas com o intuito de mero entretenimento, seus textos e adaptações para o teatro, são repletos de metáforas recheadas de significados ocultos e questões que surgem nas entrelinhas, então certamente o "Ser ou não ser" vai muito além do que uma simples frase de efeito para demonstrar o momento terrível que o personagem Hamlet estava vivendo.

Para perceber o significado oculto e mais profundo revelado no drama vivido pelo personagem Hamlet, temos que primeiro conhecer em linha gerais a história proposta por Shakespeare nesta peça. Então vejamos de forma resumida o enredo do texto "A Trágica História de Hamlet, Príncipe da Dinamarca"

A peça teatral conta que havia no reino da Dinamarca, este jovem príncipe chamado Hamlet. Ao que tudo indica Hamlet era um jovem querido de todos, muitos amigos, querido na corte e amado pelos súditos dinamarqueses. Os diálogos ao longo do drama dão conta de que Hamlet era considerado um jovem bem intencionado e existia entre o povo da Dinamarca a esperança de que quando ele fosse rei, ele seria um rei justo e um bom governante. Hamlet também tem uma história de amor, Ofélia que é filha do Primeiro Ministro Polônio é apaixonada por ele, e ele por ela.

Mas houve uma tragédia em sua família, o rei Hamlet, o pai do príncipe Hamlet, havia morrido aparentemente de causas naturais. Hamlet sofre muito com a perda do pai, e seu tio Cláudio que era irmão do seu falecido pai, e sua mãe a rainha Gertrudes, convocam dois amigos dos tempos de escola chamados Rosencrantz e Guildenstern para alegrar o coração de Hamlet, também vem para o funeral do rei  um jovem chamado Horácio, que é o melhor amigo de Hamlet. A presença deles alegra o coração de Hamlet que supera a perda do pai e volta a sua vida normal. 

Em seguida sua mãe, a rainha Gertrudes, agora viúva, decide casar-se com seu cunhado Cláudio, então o tio de Hamlet torna-se seu padrasto e tomou lugar do seu pai como rei da Dinamarca.

Tudo volta ao normal após a morte do rei e a vida de Hamlet seguia como um conto de fadas, até que ele teve a terrível experiência com um fantasma.

Era o fantasma do pai de Hamlet, este por sua vez lhe contou que não havia morrido de causas naturais, mas fora assassinado. O fantasma afirma que Cláudio tramou e executou a morte do próprio irmão para lhe usurpar o trono, para tanto, casou-se com a mãe de Hamlet, e este era um plano previamente arquitetado, dando a entender que a rainha sabia de tudo e era minimo conivente com o que havia acontecido. Por fim o fantasma do rei pede a Hamlet que vingue sua morte.

“Há algo de podre no reino da Dinamarca” (A trágica história de Hamlet, Príncipe da Dinamarca - ato I cena IV). Esta é a célebre frase proferida por Hamlet quando encontra o fantasma do seu falecido pai e descobre que ele havia sido assassinado.

As aparições do fantasma conturbam a mente de Hamlet e abalam terrivelmente seu mundo. As cenas que sucedem as aparições do fantasma mostram um Hamlet diferente, triste em muitos momentos, sarcástico, questionador, irônico muitas vezes; e as pessoas começaram a pensar que ele estava enlouquecendo.

Hamlet questiona sua mãe, e descobre que ela o manipulava, até mesmo com aqueles dois amigos que tinham vindo tentar alegrar o seu coração quando o pai morrera. Ele também passa a desconfiar que havia um complô para tirar sua própria vida.

Em outra cena Hamlet conversa com seu amigo Horácio sobre a morte, enquanto segura o crânio desenterrado de Yorick. Yorick fora o bobo da corte e fazia parte da infância de Hamlet, o que denota que em meio a crise gerada pela aparição do fantasma, Hamlet busca algum sentido nas lembranças de seu passado. Mas além disso, ao contemplar o crânio do bobo da corte morto a muitos anos, talvez ele estivesse se vendo, talvez estivesse percebendo como ele fora tolo em não perceber o que estava acontecendo.

Em outra cena marcante ele encontra uma tropa Norueguesa que estava se deslocando para uma batalha em território Polonês, e após se despedir da tropa ele faz uma belo discurso sobre a perda inútil das vidas humanas num combate sem sentido, demonstrando que Hamlet em meio a seu dilema, estava questionando os valores desta sociedade, em que tantas vidas se perdem inutilmente.

Por fim Hamlet cria uma encenação para apresentar na corte, e o enredo é exatamente a sucessão de eventos que culminaram no assassinato do seu pai. Desta forma Hamlet deixou claro para seu tio Cláudio que ele sabia o que havia acontecido. Na última cena Hamlet mata seu tio durante a encenação, mas ele próprio também acaba sendo envenenado e morre após seu tio sucumbir, e assim a peça termina.

Muitas pessoas pensam que o famoso dilema "Ser ou não ser" surge na cena que Hamlet segura a caveira do falecido bobo da corte, contudo o "dilema do ser" surge bem antes, quando Hamlet percebe que precisa tomar uma atitude em relação ao que o fantasma do pai havia lhe dito.

A famosa frase "Ser ou não ser" surge no terceiro ato quando Hamlet vai ao encontro de Ofélia dizer que não a amava. A questão é que ele pretendia colocar em prática sem plano para vingar a morte do pai, e para tanto ele precisa se afastar de Ofélia mesmo a amando, porque ela era filha do primeiro ministro, e ele iria atentar contra a vida do próprio rei. Ele entra na casa de Polônio, pai de Ofélia, e enquanto a aguarda chegar ao ressinto ele sofre porque vai dizer para a mulher que ama, exatamente o oposto, que não a ama; então Hamlet começa a pensar no preço muito alto que estava tendo que pagar para vingar a morte do pai. É neste momento que surge o monólogo do "Ser ou não ser".


"Ser ou não ser, eis a questão: 
Será mais nobre em nosso espírito sofrer pedras e flechas com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja, ou insurgir-nos contra um mar de provocações E em luta pôr-lhes fim?
Morrer.. dormir: não mais.
Dizer que rematamos com um sono a angústia e as mil pelejas naturais-heranças do homem:
Morrer para dormir... é uma consumação que bem merece e desejamos com fervor.
Dormir... Talvez sonhar: eis onde surge o obstáculo: Pois quando livres do tumulto da existência, no repouso da morte o sonho que tenhamos, devem fazer-nos hesitar: eis a suspeita que impõe tão longa vida aos nossos infortúnios.
Mas, silêncio! Aí vem vindo a bela Ofélia."  
(A trágica história de Hamlet, Príncipe da Dinamarca - ato III cena I)

Na continuação da cena, Hamlet faz o que havia planejado e nega para Ofélia que a ama;, isto causa tanta dor no coração da jovem, que ela morre no decorrer da peça, e a morte dela só serve para acentuar ainda mais a dor de Hamlet e a noção do preço altíssimo que ele esta pagando para se insurgir contra seu tio.

Pois bem, em linhas gerais esta é a história de Hamlet, e este é o momento em que ele profere a célebre frase; mas como disse, Shakespeare amplifica o dilema do personagem  para o nível do "Ser", pois o dilema inicial seria "vingar ou não vingar a morte do pai". Logicamente a atitude que ele tomasse implicaria em quem ele "seria", isto é, caso ele vingasse o pai, "seria" um assassino, caso ele não vingasse, "seria" um covarde, ou um conivente; então o verbo "To Be" se aplica na medida em que a atitude que ele fosse tomar iria determinar quem ele vai ser.

Mas Shakespeare vai além disso, pois ele trata o "Ser ou não ser" como uma questão, a propósito, esta é a frase, "Ser ou não ser, eis a questão". Não apenas quem vou "Ser" mas a ideia é: "posso ou não Ser". Ele trata o dilema de Hamlet dentro da ideia de que "Ser" se tornou uma escolha.

Por isto que ele está amplificando o dilema, porque "agir ou não agir" implica em pensar que "serei assim ou serei de outra forma", mas Shakespeare pensa este diálogo no nível de que "posso ser ou posso não ser". É uma escolha; para Hamlet "Ser" se tornou uma opção.

Se aplicarmos a lógica podemos entender que antes de Hamlet saber a verdade sobre a morte do seu pai ele não podia escolher "Ser", agora pode.

Vamos interromper este raciocínio para pensarmos um pouco no significado do nome Hamlet. "Hamlet", no inglês significa "pequena aldeia rural"; acho que a ideia de Shakespeare era insinuar o olhar interiorano. Sem que sejamos preconceitos ou rotuladores, sabemos que muitas vezes (não sempre) as pessoas que vivem em áreas rurais, e em pequenas vilas, tem uma visão limitada e pequena do mundo; penso que era esta a referência que Willian Shakespeare queria dar denominando seu personagem principal de "Hamlet", insinuando que ele é alguém que está enxergando a vida de forma limitada, e isto acontece até que um dia foi confrontado com a verdade dita pelo fantasma do seu pai. Por isto, é que só depois de saber a verdade, que ele pode escolher "Ser".

O que temos diante de nós é muito além do simples dilema de alguém que não sabe se vai vingar ou não o pai. Shakespeare está nos demonstrando que "Ser" só se torna uma escolha quando somos confrontados com a verdade dos fatos, com a verdade do mundo ao nosso redor, e com a verdade sobre quem realmente nós somos.

Shakespeare de forma muito inteligente, esta falando do choque com a verdade, e mais inteligente ainda foi a forma como ele usa a ideia do fantasma. O fantasma denota uma ideia de algo assustador, que mete medo e cobra de Hamlet que ele tome uma atitude, é a forma com a qual Shakespeare demonstrou que a verdade assombrava Hamlet.

Quando Hamlet teve estes contatos com o espirito do seu pai, começa a perceber que a realidade não era colorida como ele imaginava antes, ele pensava que vivia no meio de pessoas ótimas, que tudo ao seu redor era maravilhoso, que seu país era um lugar de beleza e vida, que sua família era ótima e que as pessoas do corte eram excelentes, mas o fantasma do seu pai revela para Hamlet que seu mundo perfeito é uma mentira.

Hamlet descobre que sua mãe tem o caráter duvidoso, que sua família era desunida, que seu tio, que havia tomado o lugar de seu pai, era um homicida; que várias pessoas da corte desconfiavam do que havia acontecido mas ninguém tomou nenhuma atitude, na verdade ele descobre que algumas pessoas estão tramando contra a vida dele; então a corte era longe de ser um bom ambiente como Hamlet pensava antes; Hamlet também descobre que todo o seu país e o lugar aonde ele vivia, não era assim tão bom como ele pensava, tanto que como já mencionei uma das célebres frases do texto é: "há algo de podre no reino da Dinamarca", é o momento de descoberta de Hamlet, ele está descobrindo que o mundo não era aquele conto de fadas.

Mas o pior disso tudo não foi perceber a verdade dos fatos, mas perceber que ele antes não se dava conta do que estava acontecendo. O pai dele foi assassinado e ele não havia percebido, nem sequer desconfiado.

Este é o grande drama de Hamlet, ao perceber que o seu estilo de vida o tornava um alienado. Sendo assim, a crise existencial de Hamlet não se deu apenas por descobrir a dura realidade que o cercava, ele entra em crise quando finalmente se percebe, ele se vê e descobre que acreditava na falsidade por que lhe era mais agradável, acreditava naquele mundo de faz de contas porque era lhe mais conveniente. Tanto que num dos monólogos que ele tem logo após de ver o fantasma do pai, ele se queixa de ter que saber e de ter que agir, pois era bem melhor viver descompromissado, do que perceber o mundo ao seu redor e ter que encarar as pessoas e as situações que a vida lhe impunha.

Então "Ser" se tornou uma opção para Hamlet, agora que ele deixou de viver aquela mentira. "Ser" se transforma em opção a partir do momento em que Hamlet descobre a vida como ela é. E principalmente "Ser" se torna uma opção a partir do momento que ele já sabe quem realmente é. Finalmente ele se viu, percebeu que era um alienado do que estava ao seu redor, se deu conta de quem realmente era, e agora pode escolher, "Ser ou não ser".

Shakespeare construiu o dilema de Hamlet tentando demonstrar que "Ser" passa a ser uma opção a partir do momento em que soubermos a verdade sobre o mundo a verdade sobre as pessoas que nos cercam, e verdade sobre nós mesmos. A morte de Hamlet no final da peça pode ser um indicativo de que ao se descobrir, e a partir do momento em que "Ser" se torna uma opção, nasce um novo homem, e para tanto o velho tem que morrer.

Quando finalmente formos capazes de ver o mundo sem ufanismos e fantasias, ver a nós mesmos e reconhecer quem somos e porque somos, poderemos decidir quem seremos, nasce uma nova criatura.

Outra metáfora fantástica que Shakespeare fez foi introduzir este momento do "Ser ou não ser" na hora que Hamlet se depara com o preço alto que tem que pagar se afastando de Oféia. O momento em que "Ser" se torna opção é um momento caro. Há um preço alto a se pagar quando se sai do mundo de mentiras para encarar as coisas com realmente são.

Incrível pensarmos que muito antes de Shakespeare, Jesus Cristo fez várias referencias a estes dois aspectos presentes em Hamlet.
Jesus falou sobre a necessidade de sermos confrontados com a verdade (Evangelho de João capitulo 8 verso 32) "A verdade vos libertará", e Jesus falou sobre a necessidade do homem nascer de novo (Evangelho de João capítulo 3 verso 3).

Um último e mais fantástico aspecto presente na celebre fraze só pode ser  percebido a luz de uma análise do próprio idioma inglês.

O Inglês é diferente da maioria dos idiomas no mundo porque nele o verbo "ser" e o verbo "estar" são um único verbo, o verbo "To Be".

Na maioria das antigas culturas e dos antigos idiomas, o verbo "Ser" sempre se aplica à coisas imutáveis. Por exemplo quando nos perguntam: Aonde você nasceu? Ao que respondemos: Sou de tal e tal lugar. Então neste caso estamos usando o verbo "Ser", para dizer que "sou de tal lugar", e isto ocorre porque podemos mudar até de residencia mas não mudaremos nosso lugar de origem. Então "sou de tal lugar" porque nasci lá e nada vai mudar este fato. Mas quando nos perguntam em que lugar estamos agora, usaremos o verbo "estar". Estou aqui, ou estou acolá. Isto porque aonde estamos hoje podemos não estar amanha. Então o "Ser" é o permanente, e o "Estar" e o transitório. E como disse é assim em quase todos os idiomas no mundo.Contudo no Inglês "Ser" e "Estar" estão contidos no mesmo verbo.

Isto ocorreu no idioma inglês por causa da sua cultura. O Inglês arcaico surgiu dentro do idioma dos antigos Celtas, e os Celtas por sua vez entendiam a vida como dinâmica continua, de maneira que mesmo em seus aspectos imutáveis, ou mesmo nos aspectos variáveis, eles entendiam como sendo o "Ser" num ato contínuo. Podemos conceituar o verbo "To Be" como o "Ser em movimento" ou a própria vida em movimento.


Quando Hamlet profere "To Be or not to be", como sendo uma escolha, é como se agora Hamlet pudesse dominar o movimento da sua vida, o "Ser" contínuo, o movimento do "Ser" agora está sobre seu domínio.

Interessante pensarmo em dominar nossas próprias vidas, porque parece que a maioria de nós, não tem domínio sobre si mesmo. Muitas vezes fazemos planos, desejamos mudar de atitude, tentamos mudar hábitos, mas isto parece ser tão difícil. Parece que não temos controle sobre nós mesmos. Até mesmo coisas simples como começar uma dieta, ou mesmo parar de fumar, ou quem sabe largar algum vício, é realmente muito difícil. Então surgem instituições como por exemplos os "Alcoólatras Anônimos" ou os "Vigilantes do Peso", e aqui não é nenhuma crítica a estas organizações, apenas a constatação de que elas existem porque não temos domínio sobre nós mesmos e muitas vezes precisamos de apoio para mudar hábitos e transformar comportamentos.

Na religião também não é diferente, quantas e quantas vezes deparamos com pessoas que realmente creem em determinadas ideologias mas não conseguem simplesmente aderir aos padrões que tal credo preconiza. Penso que a maioria das pessoas são sinceras nas suas crenças e nos conceitos que querem seguir, o problema é que muitas vezes elas não conseguem seguir aquilo que pregam, mesmo que preguem com sinceridade. É nesta hora que temos é o famoso "faça o que eu digo mas não faça o que eu faço", porque por mais sinceros que sejamos em tentar aderir a determinado credo as vezes não temos domínio sobre nós mesmos.

Incontáveis pessoas são frustradas quanto a isto, porque não são quem gostariam. Incontáveis pessoas são mal resolvidas, e até mesmo tem ódio de si mesmas; e dai surgem os "alter-egos" surgem os recalques, as paranoias, e o radicalismo doentio. Na religião também nos deparamos com pessoas que tentam marretar em si mesmas e nos outros conceitos e comportamentos que elas mesmas não conseguem seguir porque não tem domínio sobre si mesmas, e por isto muitas vezes o ambiente religioso é recheado destes recalques e pessoas que tornam-se paranoicas.

Para um cristão por exemplo, Cristo é seu exemplo, o padrão a ser seguido, um "eu ideal" ou "eu idealizado" contudo quando olhamos a figura de Cristo descrita nos evangelhos, é sempre uma pessoa avessa a ódios,  preconceitos e recalques, mas estas pessoas que se dizem seguir a Cristo são tão mal resolvidas, e ao invés de paz, encontram guerra; tudo porque suas mentes aderem as idéias de Cristo mas acabam não tendo domínio sobre quem são, para que possam ser realmente iguais a Cristo

Mas penso que nesta peça de Hamlet, o gênio Shakespeare está nos dando a grande dica de como podemos assumir o controle sobre nossa vida, e como podemos assumir o controle sobre este "To Be", isto é, sobre este "Ser em movimento", para que sejamos quem queremos ser.

Vejamos que quando determinada pessoa conhece muito de um determinado assunto, dizemos que aquela pessoa domina tal assunto.

Temos domínio sobre aquilo que conhecemos, sendo assim, quando conhecermos profundamente a nós mesmos, teremos domínio sobre quem somos.

O"Ser" em movimento, pode sim estar sobre nosso controle, posso sim ter domínio sobre mim mesmo, posso "Ser" quem quiser, desde que primeiro saiba quem sou. Quanto entendo o porque sou de tal e tal forma, poderei controlar este movimento do "Ser" movendo a minha vida na direção que desejar.

Concluindo, percebemos que precisamos nos libertar das mentiras sociais, deixarmos o mundo de ilusões, e encararmos a realidade sobre o mundo, e principalmente a realidade sobre nós mesmos, como fez Hamlet. E por mais doloroso que seja, este é o momento em que poderemos assumir o domínio e o controle sobre o movimento do nosso "Ser".

Infelizmente hoje em dia, a maioria das pessoas vive um estilo de vida semelhante ao de Hamlet, alienados, não percebem quem são, não percebem quem são as outras pessoas, nem percebem o mundo ao redor.
Estas pessoas não escolhem "Ser", o movimento de suas vidas não está sobre seu controle. Vivem a "Tragédia de Hamlet", a tragédia não foi ter sido assombrado pelo fantasma  pai, foi ter vivido sem se dar conta da verdade de si mesmo e do mundo ao redor.
  
Mas para aqueles que tem vivido dilemas existenciais como Hamlet viveu, que tem sido assombrados pela verdade sobre o mundo e a verdade sobre si mesmos, por mais dolorido e complexo que este momento possa ser, é um momento de valor inestimável. Shakespeare nos ensina que por mais terrível que possa parecer, temos que enxergar estes momentos de crise como a grande oportunidade de uma virada nas nossas vidas.  pois esta nascendo em você uma nova criatura, capaz de "Ser" o que quer "Ser".
Para estas pessoas, "Ser" se torna uma opção.

18 comentários:

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    1. Nesse exato momento era oque eu precisava ouvir no caso ler♡!

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    2. Nesse exato momento era oque eu precisava ouvir no caso ler♡!

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  2. Gostei demais da explicação, parabéns!

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  3. adorei o Texto.
    Parabéns!
    e obrigado!

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  4. adorei o texto.
    Parabéns!
    e obrigado!

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  5. vivendo e aprendendo, texto extremamente esclarecedor,obrigada

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  6. Texto profundo e coerente.... Só em um 7 de setembro posso contemplar um texto tão libertador....

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  7. Muito obrigada por essa lúcida explicação e pelas lindas metáforas. Estou vivendo esse momento, com meus 23 anos, e enfrento agora o fantasma do Rei. São descobertas que estão me levando aos mergulhos mais profundos que já dei nessa vida. É o TO BE se manifestando. O Ser Imutável/Permanente (ser) vem à tona, e o Ser Transitório/Variável (estar) exercendo a dinâmica continua da transformação, da EVOLUÇÃO.

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    1. 23 É uma excelente idade para enfrentar o fantasma, é um desperdício do "ser" deixar pra depois. Mas te convido a um olhar atento para o monólogo, a dúvida entre "sofrer pedras e flechas com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja, ou insurgir-nos contra um mar de provocações" é na verdade o dilema entre se manter na zona de conforto ou vivenciar esta transitoriedade variável do "estar". É a opção pela segunda alternativa que possibilita a evolução, portanto não desista do enfrentamento.

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    2. Parabéns, Excelência em capacidade!

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