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quarta-feira, 1 de maio de 2013

A Bolha Imobiliária e Nossas Mazelas

A chamada bolha imobiliária causou a grave crise econômica em 2008, crise esta que continua repercutir no cenário mundial.
Mas a maioria das pessoas não entende como e porque se forma esta distorção nos preços das moradias, e como, porque, e quando, estes preços caem, arrastando toda a economia. 
que o público em geral também não entende que por trás da chamada bolha imobiliária encontramos todas as mazelas de nossa sociedade e os aspectos mais perniciosos e destrutivos do caráter humano.
Isto me reporta ao grande economista John Kenneth Galbraith, em seu documentário "A Era da Incerteza" (de onde peguei emprestado o título deste blog) que fez um longo estudo sobre a relação "terra, trabalho e propriedade", neste capítulo da obra de Galbraith, podemos ver como é complicada a relação do ser humano, seu desenvolvimento e a ocupação das áreas urbanas e rurais.
Mas vamos tentar primeiro entender como se forma esta chamada "bolha".


Necessidade de Crédito
A questão habitacional é fundamental para nossa sociedade urbana, ter uma casa ou uma residência, nunca é algo simples e barato.
Todos nós temos necessidades básicas como alimentar-se, vestir-se, etc, mas de todas as necessidades básicas do ser humano, a necessidade de ter um teto e um lugar aonde possa ser abrigado e abrigar sua família é sempre a necessidade mais cara.
Em todo o mundo então, boa parte do público recorre ao financiamento para poder adquirir imóveis, isto porque a necessidade de moradia é urgente mas leva-se muito tempo para formar uma poupança capaz de adquirir um imóvel. Isto fica mais difícil ainda levando em conta que enquanto não adquire uma moradia, as pessoas recorrem ao aluguel, o que torna mais complicado a formação desta poupança.
Em tempos de recessão, este financiamento fica escasso porque o dinheiro que circula é pouco, mas quanto vivemos períodos de crescimento econômico, o dinheiro circula e o crédito imobiliário cresce, o que possibilita que várias pessoas possam adquirir suas moradias,
A economia mundial viveu um forte crescimento econômico desde o inicio dos anos 1990, com isto o mundo todo passou a viver uma fartura de crédito para compra de imóveis. No Brasil esta onda de crescimento demorou a chegar, e apesar da crise da bolha ter acontecido em 2008, nós ainda estamos vivendo um momento de preços super valorizados e forte especulação imobiliária. Isto porque o principal financiador para compra de novos imóveis no Brasil é o governo através de bancos estatais. Mas engana-se quem pensar que por ser financiamento estatal, não estaremos sujeitos aos mesmo problemas que ocorreram noutras partes do mundo, pois o governo também quebra, assim como os bancos que erraram no financiamento.
O crescimento do crédito permitiu que muitas pessoas tivessem a possibilidade de adquirir suas residências, e isto gerou um crescimento ainda maior na economia mundial, pois na medida em que as pessoas tinham como comprar seus imóveis, as construtoras e incorporadoras puderam crescer, e em todo um mundo surgiram milhares de canteiros de obras.
Isto alavanca a economia como um todo porque a construção civil utiliza muita mão de obra e gera milhares de empregos diretos e indiretos.

Ganância
Este universo perfeito aonde o crédito permite que as pessoas comprem suas casas, e isto gera mais e mais crescimento para toda a economia, sucumbe por causa da especulação e da ganância.
O crescimento do mercado imobiliário favorece o lucro dos bancos e do setor da construção civil, sem falar nas incorporadoras e nas imobiliárias.
Entra em cena o ganância que visa lucrar de forma desenfreada.
As construtoras e incorporadoras querendo lucrar mais e mais, passaram a super valorizar o metro quadrado dos seus lançamentos, e mesmo fora da realidade e caríssimos, eles encontravam compradores porque o financiamento diluia o valor em prestações ao longo de vários anos.
Os bancos por sua vez, também querendo ganhar mais a e mais, passaram a conceder cada vez mais crédito, para pessoas que não tinham condições de pagar.
Nos Estados Unidos isto ganhou uma dimensão ainda maior, pois as pessoas pegavam empréstimos dando seus imóveis como garantia, com isto os bancos geravam ótimos lucros para seus acionistas, mas eles estavam emprestando para pessoas que compraram imóveis super valorizados pagando prestações que não cabiam no bolso e ainda pegam empréstimos dando estes mesmo imóveis como garantia.
Isto formou a chamada bolha, as pessoas estavam com um crédito além da sua capacidade de pagamento, e compravam imóveis super valorizados, aonde os agentes envolvidos no setor imobiliário lucravam elevando muito o metro quadrado do seus lançamentos.

O Estouro da Bolha
Isto era uma bomba relógio, quando os primeiros calotes surgiram, era o sinal de que eles haviam alavancado de mais, gerando valores e lucros aonde não havia nada.
Os calotes começaram numa escala desenfreada, as pessoas haviam comprado imóveis pagando caro de mais e não tinham como pagar, também não tinham como pagar as prestações, nem arcar com os empréstimos contraídos com os bancos aonde os imóveis tinham sido dados como garantia.
Faliram as empreiteiras, faliram as incorporadoras, faliram as empresas de crédito imobiliário, faliram os bancos de investimento.

Contágio
Mas toda a economia foi afetada, porque quando falamos de imóveis, eles tem um valor pouco volátil, que diz respeito a vida de todas as pessoas, e estabelece também o patrimônio das famílias.
Isto comprometeu toda a economia, e todo fluxo de capitais em todo mundo.
Já vivemos outras crises, mas elas não tinham um contágio tão devastador.
No caso por exemplo da crise gerada no estouro da bolha da internet, também gerou falências e derrocadas financeiras, também no caso da crise Russa ou mesmo na crise Brasileira, houve muita especulação mas pouco contágio, tanto que a economia rapidamente voltou a crescer.
Mas os imóveis são parte fundamental da vida e do patrimônio das pessoas e das empresas, e tem a ver com as garantias dadas para a obtenção de crédito.
Sem as garantias e sem o crédito, a economia poderia para, e arrastar várias empresas saudáveis para o mesmo buraco. O desemprego seria imenso e a crise poderia gerar uma recessão pior que a crise de 1929.
Alguns defendem que os governos deveriam deixar isto acontecer, pois seria terrível mas seria rápido, ao invés disto, os governos entraram socorrendo as instituições, injetando bilhões de dólares e euros.
Ocorreu que isto levou a falência dos bancos e das empresas do setor imobiliário, para os governos.
Os governos de vários países na Europa estão falidos, a divida americana e chinesa estão fora de controle, e a ásia está estagnada.
A verdade é que passados cinco anos da crise, ainda não foi solucionada, ameaça o Euro, e pode voltar numa nova onda de crise, desta vez não causada pela quebra do setor imobiliário e financeiro, mas pela quebra dos governos.
Os governos trouxeram para si a dívida do setor imobiliário e bancário, e se a economia continuar estagnada nos países ricos a falta de crescimento poderá gerar a volta dos mesmos problemas no futuro.

Concluindo
A ganância e a busca pelo lucro a qualquer preço tiraram a economia dos eixos depois de tantos anos de crescimento.
Desde a queda do muro de Berlim, e mesmo apesar de várias crises cíclicas, o crescimento mundial nos últimos vinte anos gerou uma melhoria nas condições de vida em várias partes do globo.
Mas quando a ganância atingiu o setor habitacional que é uma das partes mais importantes na vida do ser humano, isto não apenas lançou o mundo econômico noutra crise, mas interrompeu o crescimento de anos, e ninguém sabe ao certo se a coisa ainda pode voltar a ficar pior.
Isto nos faz refletir nos nossos valores, afinal assim como acontece no macro cosmo da economia mundial, vivenciamos a mesma realidade em nosso micro cosmos.
Foi Jesus quem disse que a vida do homem não consiste nas coisas que possui, mas muitas vezes pensamos que seremos felizes quando tivermos mais e mais, e alcançarmos lucros maiores e mais patrimônio. Mas é nesta hora que acabamos por perder tudo.
Se todos sofremos com a recessão mundial, que pelo menos os motivos desta crise nos sirva de lição.


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