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sexta-feira, 10 de maio de 2013

Amor, Ódio e Possessividade X Amor e Respeito

O senso comum e as filosofias baratas, dizem que amor e ódio guardam uma relação íntima, como se fossem lados opostos da mesma moeda.
Infelizmente isto aparece em algumas culturas e alguns credos, até mesmo alguns terapeutas pensam assim, além de constantemente ser repetido por pessoas que inadvertidamente, afirmam este absurdo como sendo verdade absoluta.
Mas a verdade é que o amor não guarda nenhuma relação com o ódio, é como luz e escuridão, aonde um está não existe o outro.
O que costumamos ver nestes casos é uma grande confusão de sentimentos. As pessoas confundem narcisismo com amor, culto ao poder e a dominação como se fosse amor.

É natural que ao longo da vida nos identifiquemos com algumas pessoas, tanto nas relações de amizade como nos romances.
É natural também que tenhamos desejos de obter coisas para nós, e também isto varia de pessoa para pessoa, cada um se identifica com modelos diferentes dos mesmos bens de consumo.
As coisas nós as temos, as pessoas nós amamos, isto é como deveria ser, contudo nunca o ser humano foi tão egoísta e narcisista, e desta forma, percebemos as pessoas por quem temos afinidade no mesmo nível das coisas que desejamos, isto é, coisificadas as pessoas, trazemos para o nível do desejo das coisas, as pessoas por quem temos estima.
Acabamos por cultivar a ideia de posse das pessoas por quem temos afinidade, e confundimos este sentimento de posse como se fosse o amor.
Quando alguém toma de nós nossos bens, queremos chamar a polícia, e queremos ver punidas as pessoas que tiraram o que nos pertencia,
Na medida em que enxergamos as pessoas como coisas que queremos possuir, somos tomados pela mesma raiva quando estas pessoas se afastam de nós, como se tivessem roubado um patrimônio nosso.
Então para muitos que confundem o sentimento de posse narcisista com amor, a raiva que invade quando um relacionamento e desfeito por exemplo confunde muitas pessoas que passam a ver o ódio como a outra face do amor.
Mas ódio tem a ver com egoismo, ganância, narcisismo, e não com amor.

A manifestação do verdadeiro amor se da em Jesus Cristo, mesmo quem não é cristão leva em conta seu amor, e isto fica evidente por causa do seu sacrifício.
Alguns místicos creem que Jesus era uma espécie de mago muito poderoso, que se permitiu ser martirizado, o martírio tem uma força muito grande na concepção destes místicos e do esoterismo em geral.
Então mesmo estes creem que Jesus tinha tanto poder, mas se permitiu ser morto porque queria ser martirizado, e a única justificativa para isto, é o amor.
O amor de Cristo é uma realidade constatada mesmo por quem não crê nele como sendo Deus.
Se Cristo é o exemplo maior de amor, vejamos então que Cristo nunca deu a entender que amor e ódio são faces da mesma moeda, muito pelo contrário, Cristo sempre demonstrou que quem ama respeita.
Jesus pergunta ao cego: "Que queres que eu te faça?" Era claro que aquele homem queria voltar a enxergar, mas a pergunta de Jesus faz sentido quanto entendemos que o respeito Dele pelas pessoas era tamanho que era necessário que o cego externalizasse sua vontade para que Cristo tomasse partido e realizasse a sua cura, caso contrário seria uma invasão a vontade do cego, e isto Cristo não faria porque seria um desrespeito.
Jesus também afirma, conforme o livro de Apocalipse capitulo três, que Ele está a porta, se alguém abrir a porta, Ele entrará na casa. É uma maneira de deixar claro que Ele não invade nosso espaço, apenas entra em cena quando convidado, isto porque Ele respeita as pessoas, e respeita porque ama.

Desta forma, entendemos que o amor guarda uma relação profunda com a noção de respeito e liberdade. No amor eu não posso invadir a vontade de ninguém, não posso aprisionar ninguém, nem ditar regras para ninguém, não posso querer que as pessoas façam o que eu quero que elas façam, mas do amor aprendo que vou continuar amando mesmo que façam de forma diferente de como penso.
É bem verdade que muitas vezes estamos ligados a algum compromisso por causa do amor, como no matrimônio por exemplo, mas este vinculo é uma opção, não uma obrigação, como disse Camões "È querer estar preso por vontade".
Cristo que entendemos ser o bem encarnado, revela que o bem não invade nossa vida, precisa ser convidado, pois na bondade e no amor existe o respeito, enquanto o mal chega sem ser convidado nem desejado.
Por isto somos orientados a fazer orações contando a Deus que precisamos de sua ajuda, porque Ele nos ajudara mediante nosso desejo, do contrário, nunca invadirá nosso espaço, porque nos ama, e por nos amar nos respeita.

Outro exemplo bem vivo na memória das pessoas de um amor verdadeiro, aonde não existe relação do amor com ódio, mas sim do amor com o respeito, é na relação com nossas mães.
É bem verdade que algumas pessoas não tiveram boas mães, e nestes casos, isto é algo que precisa ser superado, mas a grande maioria de nós podemos perceber na postura de nossas mães, o exercício do mais puro amor, e neste amor maternal não encontramos espaço para esta falsa relação entre o amor e o ódio.
A mãe gera a vida, e conforme o filho (a) cresce, ela se alegra a cada demonstração de iniciativa, de independência e de autonomia, quando o filho aprende a falar, ou a andar, ou quando começa a revelar suas opiniões, e começa a fazer suas próprias escolhas, tudo isto alegra o coração de uma mãe, (obviamente que digo isto em relação ao que acontece normalmente com pessoas psicologicamente saudáveis).
Este aspecto do amor materno chega a ser contraditório, porque quem ama quer estar perto da pessoa amada, e a mãe se alegra por ver o filho (a) ganhando independência mas sabe que cada passo que um filho da em direção a sua autonomia, é um passo para o dia em que ele vai seguir a vida dele e vai se afastar dela.
Mas a verdade é que o amor em geral é muitas vezes contraditório, tanto que, voltando a sitar o poeta Camões, ele escreveu que o amor "É um não querer mais que bem querer; É um solitário andar por entre a gente; É um não contentar-se de contente; É um cuidar que se ganha em se perder." Mas mesmo nesta contradição, não encontramos nenhum espaço para que do amor guarde qualquer relação com o ódio, rancor, ou mesmo um sentimento de possessividade doentia.
É bem verdade que as mães tentam protelar a plena autonomia dos filhos quando chegam a adolescência, mas não fazem isto por sentimento de posse, fazem para preservar sua prole, e também neste momento não há nenhum sentimento de ódio, muito pelo contrário, é o zelo que nasce do  mais puro amor.
Por fim, crescemos e nos tornamos adultos, e quando deixamos o ninho, as mães sofrem, algumas até enfrentam um processo de depressão da chamada síndrome do ninho vazio. Mas volto a dizer, em nenhum momento deste processo, existe espaço para a relação do amor com o ódio e a possessividade, mas o que observamos o tempo todo é acima de tudo o respeito do amor materno pela autonomia dos seus filhos.

Sendo assim, a amor materno, e por que não dizer, o paterno também, revelam as mesmas características do amor divino. A mãe lamenta quando um filho fez escolhas erradas e sofre as consequências, mas ela estará sempre pronta a ajudar no que for possível, e Deus também é assim, cavamos a cova para depois cairmos nela, e Ele lamenta por nós e sempre estende a mão em nossa direção quando pedimos por socorro.
É o amor altruísta acima de tudo, mas este é o verdadeiro amor.
E fica absolutamente evidente que sempre encontraremos o amor verdadeiro vinculado ao respeito, mas em absolutamente nenhum momento existe uma relação próxima de amor com o ódio, possessividade, ou outro sentimento destrutivo. O amor não interage com ódio, amor interage com respeito.
O dia que celebramos o dia das mães é uma oportunidade de pensamos no amor verdadeiro, e nos libertarmos dos conceitos desta sociedade doente que vivemos, aonde existe tanto narcisismo, tanto egoismo, e dai nasce o ódio o rancor e tanta coisa destrutiva, e o pior de tudo isto, é achar que estes sentimentos guardam alguma relação com o amor.
Dia das mães, é dia de aprender a amar.

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