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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

O Cemitério de Praga - Umberto Eco Desmistifica A Maçonaria E As Teorias Conspiracionistas


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Me permitam iniciar este texto sobre o incrível livro "O Cemitério de Praga" do célebre Umberto Eco, falando brevemente na primeira pessoa.

Fui nascido e criado num ambiente cristão, na adolescência o pastor de nossa igreja Batista era um indivíduo especial, inteligente, espirituoso, bom pai, bom amigo, trabalhador, e ótimo palestrante; mas na igreja ouviam-se comentários de que ele era Maçom. Mas o que era esta maçonaria que também já ouvira falar sobre ela nas aulas de história do colégio? Anos anos mais tarde, congregando noutra igreja, e um outro pastor, também extremamente integro e convicto da fé, tinha uma postura bastante diferente sobre a maçonaria, pois ele era anti maçom, e constantemente condenava a intensa presença maçônica nas igrejas evangélicas e protestantes. Desejei então saber mais e tirar minhas próprias conclusões.

Andei estudando o assunto, e entendi que a relação entre a maçonaria e as igrejas evangélicas e protestantes vem de muitos séculos, mesmo antes da reforma. Na escola aprendemos que a Igreja Católica, Romana e Ortodoxa eram hegemônicas durante todos aqueles séculos, até que em 1517 Martinho Lutero iniciasse a reforma; mas não foi bem assim, haviam incontáveis grupos cristãos que rejeitavam a liderança de Roma, ou dos patriarcas Ortodoxos. Estes grupos foram duramente perseguidos tanto pela inquisição dos Católicos, quanto pelos Ortodoxos, sem mencionar a perseguição dos Muçulmanos, então estas comunidades cristãs passaram a se refugiavam em áreas onde as autoridades locais eram mais complacentes com estes grupos, o mesmo aconteceu com os judeus, que no auge da idade média era obrigados a se converter ao cristianismo ou seriam mortos nos tribunais da inquisição. Quando então em 1307 o Papa torna proscrita a ordem dos Templários, eles que antes eram respeitados em toda a cristandade católica tornaram-se perseguidos e cassados. Os templários foragidos, os que não foram mortos, buscaram abrigo nas mesmas áreas onde também existiam refugiados comunidades cristãs não católicas, e judeus, então os Templários (que depois formaram os Pedreiros Livres e por último os Maçons), comunidades cristãs não católica, e judeus estabeleceram uma relação forte. Então encontramos este três grupos sendo perseguidos pelos tribunais da inquisição, e o inimigo comum os uniu, foi assim, que por conta destes acontecimento que narrei muito resumidamente, encontramos hoje parte do protestantismo aliados a maçons e a judeus

Resultado de imagem para umberto eco 2015Desta forma, mesmo que discorde de questões que surgem fruto deste envolvimento entre o protestantismo, judaísmo, e a ordem maçônica, ainda assim consigo perceber que este vínculo surgiu de forma natural quando ambos grupos se viram perseguidos pela mesma força opressora comum,

Umberto Eco surgiu enquanto lia sobre o assunto. Ele é um dos maiores mestres em semiótica, que é um estudo profundo sobre como se formam os códigos da linguagem humana, além de profundo conhecer da história medieval. Pois este mesmo professor também produziu alguns romances, e nestes romances ele narra histórias onde verdades são contadas em meio as suas ficções. Impossível falar da Idade Média e da formação da sociedade moderna sem que se fale dos templários, dos maçons, da reforma, dos códigos, das mensagens ocultas, das outras diversas sociedades secretas e incontáveis conspirações; de maneira que nos romances de Umberto Eco encontramos elucidações sobre as questões históricas e místicas destas diversas sociedades formadas ao longo da história.

O melhor de Umberto Eco é sua isenção total, ele observa os fatos sem nenhum partidarismo,  e é absolutamente isento de ufanismos, e isto torna seus romances verdadeiras fontes técnicas, mesmo que sejam apenas romances. Além de uma inteligência absurda, percebo também a seriedade como ele trata estes assuntos, como no "Pendulo de Foucault" por exemplo, quando a  "Cabala" surge nas entrelinhas como um descortinar de conceitos profundos muito além de simples códigos a serem entendidos. Ele zela por esta seriedade e por esta isenção, tanto é assim que ele se aborrece sempre que algum repórter compara suas obras com as obras de Dan Brown.

A respeito do livro "O Pendulo de Foucault" fiz uma postagem a alguns anos sobre esta outra obra de Umberto Eco, segue o link: eradaincerteza.blogspot.com/2012/04/umberto-eco-e-o-pendulo-de-foucault.html

Uma última observação sobre Umberto Eco é que seu conceito religioso é um pouco complexo, alguns acreditam que ele é ateu, mas na verdade ele é adepto da chamada "Western philosophy" ou  "Filosofia Ocidental" que certos autores consideram como sendo uma perspectiva filosófica que abrange certo caráter religioso.

O Cemitério de Praga, o Anti Semitismo e os "Protocolos dos Sábios de Sião"

Quando Umberto Eco se propôs a escreveu o "Cemitério de Praga" ele tinha em mente mostrar como se desenvolveu o anti semitismo no século XIX, mostrando também que este ódio aos judeus e aos maçons nascia muitas vezes do jogo político para a manipulação da opinião pública. O próprio Eco deu uma entrevista a revista Época em Dezembro de 2011 mencionando isto, segue o link da entrevista: http://revistaepoca.globo.com/ideias/noticia/2011/12/umberto-eco-o-excesso-de-informacao-provoca-amnesia.html


"O Cemitério de Praga" foi publicado em 2010 narrando a vida de um personagem chamado "Simone Simonini". Simonini era um italiano que morava em Paris, e era agente duplo e falsário. Em determinado momento Simonini teria sido pago para produzir um documento falso com o propósito de acusar os judeus e os maçons de conspiração; mas acontece que tudo ao redor do livro de Umberto Eco é real, todos os outros personagens são reais, todos os eventos descritos também são reais, e este falso documento também é real, apenas o personagem Simone Simonini é uma ficção.

Os registros históricos contam que este falso documento foi publicado como um livro em São Petersburgo na Rússia em 1903, com o nome de "Os Protocolos Dos Sábios de Sião" ele vendeu mais de 500 mil cópias mundo a fora, mas foi totalmente desmascarado por uma série de reportagens feitas em Londres pelos idos de 1920, onde jornalistas investigativos provaram que o livro era na verdade uma compilação de vários artigos. Quem forjou este documento pegou vários textos dos mais diversos autores, em várias partes do mundo, onde se falava sobre a degradação moral da sociedade, e sobre a perda da identidade do cristianismo, entre outros assuntos, e os organizou como se tudo estivesse sendo orquestrado por um grupo de rabinos apoiados por maçons. Mesmo sendo falso, ha que se reconhecer que é um documento muito bem feito, tendo sido redigido como se fossem as atas das reuniões destes rabinos quando combinavam um plano para dominação global.

Acontece que nunca se soube quem produziu esta farsa, então Umberto Eco criou um personagem que teria sido o autor deste suplício e sobre ele desenvolve uma trama complexa num período histórico entre 1830 até 1898, passando desde as lutas pela unificação da Itália e chegando a Paris de Napoleão III. E no desenrolar da história da vida deste falsário personagem fictício, Eco cria links com vários personagens históricos reais como o general Giuseppe Garibaldi, o pai da Psicanálise Sigmund Freud, o poeta Victor Hugo entre tantos outros, dando o nome do livro de "O cemitério de Praga" porque o falsário fictício teria dito que as reuniões secretas dos judeus tinham ocorrido no antigo cemitério judeu na cidade de Praga.

Sobre este cemitério judeu na capital da república Tcheca pode-se dizer que é um local bastante sui generis, ele é muito antigo, o túmulo mais antigo em que se consegue ver nitidamente a data está inscrito 1439, além de antigo ele é bem pequeno quando consideramos que tem centenas de milhares de corpos, e por causa da super lotação  as lápides ficaram tombadas umas sobre as outras dando um aspecto bastante sinistro, a ponto de ser um local de turismo alternativo na cidade de Praga.


Os Governantes, Os Maçons e Os Judeus

Em meio aos acontecimentos reais narrados no Cemitério de Praga, onde Umberto Eco insere seu personagem fictício, e o leitor poderá perceber em muitos momentos como os governos da Europa manipulavam as informações para demonizar em alguns momentos os maçons e especialmente os judeus, e isto acontecia porque tanto boa parte dos maçons como várias famílias judias tinham muita riqueza, e por conta da riqueza eles tinham poder, e isto obviamente incomodava os outros poderosos que não eram nem maçons nem judeus.

Além disto, os maçons defendiam a igualdade e a fraternidade e por conta disto os judeus eram aceitos na ordem, então não era difícil encontrar quem fosse tanto judeu como maçom; e para piorar este clima entre a maçonaria e alguns governos, a maçonaria defendia que as nações se transformassem em Estados livres com plenos direitos civis, e para tanto se infiltravam no poder.

Isto incomodavam tanto as autoridades da época que o próprio "Protocolo Dos Sábios de Sião" foi patrocinado e montado a mando do Czar Nicolau II que estava ciente das articulações para que a Rússia se tornasse uma democracia e para tentar se fortalecer no poder ele tenta esta estratégia de demonizar judeus e maçons. A história nos conta que Nicolau II pode ter conseguido frear os intentos democráticos maçônicos, mas acabou perdendo o poder para a revolução comunista em 1918.

Importante também entendermos como e porque os judeus e os maçons tinham tanto dinheiro durante aquele período, e para tanto temos que dar uma olhada na Idade Média. A Europa medieval era uma terra inóspita, governos descentralizados, feudos em constante conflitos, a visão de ética do trabalho e da renda da Igreja Católica atrapalhavam o desenvolvimento da livre iniciativa, péssimas condições de saúde pública, além da vida muito curta por causa das inúmeras pestes que assolavam a população.

Em meio a este caós os judeus tinham muitas vantagens sobre os outros povos, primeiro porque na medida em que eram um povo sem pátria, eles tinham uma grande preocupação em juntar ouro e pedras preciosas, porque assim teriam dinheiro para onde quer que fossem; além disto a única unidade nacional que eles tinham eram os textos bíblicos do Antigo Testamento, então para que pudessem manter sua unidade precisavam ser alfabetizados e isto também lhes dava uma grande vantagem sobre a grande maioria da população analfabeta. Por último os textos bíblicos orientam a manter hábitos de higiene e uma alimentação regrada, então eles sofreram menos com as terríveis pestes que assolaram a Idade Média viviam mais e isto favoreceu que famílias judias enriquecessem.

Os Maçons por sua vez oficialmente só apareceram em 1711, mas se considerarmos verossímeis os indícios que os tornam herdeiros dos templários, podemos vê-los no cenário medieval como pessoas que tinham também vantagens sobre os demais, pois eram unidos, haviam exatamente aprendido dos templários um rigoroso código de honra que os irmanava, esta união e este apoio mútuo sem dúvida era uma grande vantagem para enfrentar dias terríveis; além disto também buscavam alcançar um bom nível cultural, e por terem se aliaram aos cristãos reformados, tinham uma visão diferente da ética do trabalho e da riqueza onde a mais valia não era tida como pecado.

Como dissemos, no século XIX não era difícil encontrar homens influentes nas mais diversas nações que fossem judeus, ou maçons ou ambos.

Simone Simonini

Voltemos ao personagem fictício criado por Umberto Eco como sendo o autor da falsificação dos "Protocolos dos Sábios de Sião". Ele é o supra sumo do anti herói, Simonini é um indivíduo detestável e deplorável, a perfeita antítese de um heróis, é preconceituoso, narcisista, criminoso, falsário, vingativo e homicida. Contudo o mais inteligente na construção deste personagem é sua origem.

Para construir a história de vida deste personagem novamente Umberto Eco se utiliza de um fato histórico verídico. Nos idos de 1860 o famoso romancista francês Alexandre Dumas (autor do famoso "Conde de Monte Cristo" e "Os Três Mosqueteiros") foi para a Itália e atuou no processo de unificação italiana. Mas num determinado momento Dumas produziu alguns textos criticando as articulações que os maçons faziam procuravam influenciar neste processo de unificação da Itália. Houve então uma carta enviada para Dumas por um certo capitão Simonini, do qual nada se sabe, mas Umberto Eco teve acesso a esta carta e nela o tal capitão pegava carona nas afirmações de Dumas e construiu argumentos xenófobos e anti semíntas. Dumas obviamente não respondeu a carta, e daquele capitão Simonini não se teve mais notícia. Então Umberto Eco pega emprestado este personagem real e atribuiu a ele ser o avô do seu personagem fictício.

No livro do Cemitério de Praga, o capitão Simonini tem um neto que ele cria porque a mãe já morrera e o pai estava na guerra, lutando naquele longo processo de unificação da Itália. O pai do Simonini neto (fictício) acaba morrendo em combate e o capitão acaba tendo que cuidar do neto sozinho. Ocorre que o capitão é um velho rancoroso, cheio de recalques e preconceitos, e o menino é criado nesta ótica. Ele cresce ouvindo o avô falar mal dos alemães, dos russos, dos franceses, dos ingleses, dos maçons e principalmente dos judeus.

Simone Simonini vai para universidade estudar direito e neste ínterim seu avô morre, e parte dos bens  de seu avô são roubados por um certo tabelião que falsificava documentos. Quando concluiu o curso Simonini vai até o mesmo tabelião e lhe pede emprego, o tabelião aceita, mas não imagina que o jovem Simonini é capaz de matar por vingança. Assim que tem a oportunidade Simonini o mata e toma seu lugar, tanto como tabelião como falsário.

Não demora para que Simonini passe a ganhar dinheiro falsificando documentos para políticos que se articulavam visando a unificação da Itália, e também faz trabalhos para os mesmos maçons que o avô detestava. Depois ele vai trabalhar disfarçado e se envolve na explosão de um navio e seus contratantes acham que era melhor ele sumir, por isto é mandado para Paris. Na capital francesa ele volta a fazer o que sabe, trabalha como agente duplo e falsário, até que padres franceses que querem enfraquecer a força da comunidade judaica lhe pedem um documento para colocar a opinião pública contra os judeus, ele forja então o primeiro esboços dos protocolos de sião, depois vende o mesmo para o próprio governo francês e para os alemães, tempos mais tarde melhora o documento e o vende para os russos.

Simonini é tão deplorável que alguns críticos literários afirmaram que ele o personagem mais detestável que a literatura já havia produzido. Ao longo da narrativa ele comete vários assassinatos, somente no porão de sua casa numa galeria que levava ao esgoto existiam quatro cadáveres. Ele é amoral, incapaz de sentir afeição, lembra um pouco um agente secreto aos moldes do 007 mas as avessas, (ou quem sabe esta seja a verdadeira face do famoso agente secreto) apesar que ele odeia as mulheres, tem nojo, mas não é homossexual, muito pelo contrário, também odeia os homossexuais. Seu único prazer é a boa culinária, fora isto é solidão e narcisismo.

A Narrativa

A narrativa do "Cemitério de Praga" é feita na perspectiva de que Simonini está escrevendo um diário para tentar recobrar a memória, ele havia sofrido algum evento traumático e estava tendo crises de identidade, onde vez por outra acordava pensando ser outra pessoa.

Então ele lembra que em alguns restaurantes bem frequentados ele conheceu alguns psicanalistas, entre eles o próprio Freud, e tentou aplicar sobre si mesmo o que ouvira daqueles homens, escrevendo num diário todos os eventos que ocorreram com ele desde a infância até aquele momento, tentando recordar o evento traumático que havia gerado nele tamanha confusão mental.

Quando consegue recordar o evento traumático e superar a crise de identidade Simonini se da conta que havia se habituado a escrever um diário e decide continuar registrando os eventos de sua vida no diário até que ele é abruptamente interrompido.

Conspirações!? 

Umberto Eco neste livro, de forma inteligentíssima, o tempo todo coloca em cheque as teorias conspiratórias. Quando por exemplo ele menciona a atuação de Simonini como agente duplo nos eventos que levaram a queda do governo de Napoleão III, ele descreve que os maçons muitas vezes estavam divididos, tanto que ao mencionar conflitos armados ele cita que existiam maçons em ambos os lados do conflito. E num determinado dia estes maçons em lados diferentes do conflito usam seu código de honra para criar uma trégua a fim de resgatar os feridos e enterrar os mortos, onde se conclui que eles se respeitavam por conta do código de honra, mas tinham ideologias opostas.



Outro evento muito interessante sobre como Eco desmistifica as conspirações, foi quando ele narra que Simonini disfarçado de abade participa da farsa de um certo Leo Taxil, que por sinal é outro personagem real da trama. A história conta que este tal Taxil era um jornalista que recebeu dinheiro para falsificar uma série de reportagens sobre um mulher chamada Diana que supostamente era uma satanista convertida ao catolicismo e que antes da sua conversão participava de missas negras patrocinadas por um grupo de maçons.

Taxil fez tanta fama que chegou a ser recebido pelo Papa Leão XIII, mas depois, em 1897, ele mesmo disse que era tudo uma farsa e que não havia missa negra nem Diana alguma.

Contudo num determinado momento no livro Simonini acaba participando desta missa negra e descobre que ela realmente existia, e nesta hora Umberto Eco deixa o leitor do Cemitério de Praga bastante confuso se questionando se a missa negra era uma farsa ou não.

Na verdade desde os tempos remotos existe o chamado luciferianismo, e é absolutamente provável que existam maçons envolvidos nesta visão religiosa, o problema é quando achamos que tudo é uma conspiração. É aquela famosa história do "eles fazem isto, eles fazem aquilo, eles maquinaram isto ou aquilo,,," e desta forma a sociedade credita a culpa das suas mazelas nos "eles" e não abre os olhos para as culpas que carregamos tanto na individualidade e como na coletividade.

A Brincadeira de Umberto Eco

Existe um último aspecto muito curioso que quero evidenciar antes de concluir, porque parece que Umberto Eco está fazendo uma especie de trocadilho nesta obra, como se sua mente genial estivesse se divertindo na produção deste livro.

Porque quando nos deparamos com "Os Protocolos Dos Sábios de Sião" ele é um documento falso montando a partir de eventos, textos, e artigos reais mundo a fora. E o que Umberto Eco fez foi criar um personagem falso montado a partir de eventos, textos e artigos reais mundo a fora, um personagem falso para um documento falso.

Concluindo

Em "O Cemitério de Praga" Umberto Eco revela que vários governos Europeus naquele período muitas vezes tentavam combater a maçonaria pois a ordem defendia que as nações se transformassem em Estados livres com plenos direitos civis, e além disto convenientemente lançavam sobre os judeus a culpa por várias mazelas sociais, afinal desta forma eles se eximiam de ter que assumir sua má gestão pública, revelando que a muito os governos mentem para o povo a fim de manipular a opinião das massas.

Mas constatar isto também de maneira alguma exime judeus e maçons de culpa, e mesmo que boa parte das conspirações sejam fantasiosas (não todas), muitas vezes eles realmente tem sido agentes gananciosos e por conta desta ganância contribuírem ativamente para os problemas sociais que todos vivenciamos.

Conspirações! Algumas realmente existem. Grupos que tentam manipular o destino de nações e de todo o mundo para seu próprio benefício! Claro que também existem, e que todas estas conspirações verdadeiras prejudicam o bem comum, isto também é a mais pura verdade, mas também existem conspirações do "bem", grupos que se reunirem e combinam como agir contra o autoritarismo, A sabedoria bíblica já dizia a quase três mil anos "Não chameis conspiração tudo aquilo que o povo chama conspiração" (Livro do Profeta Isaías Cap 8 verso 12). A grande questão é que muitas vezes ficamos o tempo todo tentando evidenciar conspirações que existem ou não, falando mal de judeus ou de maçons, fazendo aquilo que Jesus já havia alertando contra, de ficar reparando o cisco no olho de nossos irmãos quando temos um argueiro no nosso, pois em muitos momento nós somos os Simoninis, tomados por um narcisismo doentio incapazes de perceber que por vezes somos tão terríveis quanto as mesmas pessoas ou instituições, que incessantemente criticamos.

Encerro como comecei, voltando a falar na primeira pessoa, na busca pessoal ao qual me referi no início, andei lendo muita coisa e participando de vários estudos e palestras, e muitas destas palestras tinham um caráter conspiracionistas, aprendi do Apostolo Paulo na Bíblia que devemos examinar tudo e reter o que for bom, e neste intuito ouvi muita coisa. Alguns destes teóricos da conspiração são bem sérios e municiados de muito conteúdo, mas outros são como papagaios que repetem coisas sem entender o que dizem, e vários textos, e vários destes palestrantes equivocados mencionam o livro dos "Protocolos dos Sábios de Sião" como sendo um texto sério e verdadeiro, este que foi um livro falso, uma farsa total, que era o livro de cabeceira de Adolf Hitler, muitas vezes era apresentado como sendo basicamente um manual Iluminatti para o domínio global.

Pois bem, ele é falso, mas se é falso como entender o processo de degradação que vivemos nesta era da incerteza? Não seria tudo isto uma conspiração pré fabricada, então como entender o desenrolar dos processos que vemos? A resposta para esta questão talvez seja a grande proposta de Umberto Eco neste livro, nos inquietar com a perspectiva de que as mazelas que tem nos conduzido em direções tão ruins talvez não sejam o reflexo de algum complô ou um plano arquitetado e pensado por um inimigo terrível, mas talvez o que estejamos vendo na coletividade de tão detratável, seja apenas o retrato terrível de nossa individualidade.

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