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quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Mais Dirks Willems - Este é Meu Desejo para o Natal de 2021.

 Que nossas histórias são convenientemente ignoradas por uma sociedade hipócrita governada por uma grande leva de incrédulos e/ou luciferianos, isso nós já sabemos; mas algumas de nossas histórias precisam ser contadas, para calar os mesmos que tão vorazmente se arvoram em criticar a fé cristã.

Pouco ou nada se sabe sobre os Anabatistas, e quase tudo que é dito não passam de conjecturas e especulações, portanto, especula-se que eles já existiam antes da reforma de Lutero, e que colocaram as mangas de fora quando a reforma eclodiu, contudo por quererem muitos avanços na direção das liberdades individuais, foram duramente perseguidos, até mesmo pelos cristãos protestantes.

As primeiras citações a estes ditos "Anabatistas" aparecem numa revolta de camponeses que aconteceu na Alemanha em 1519, na ocasião foi dito que este grupo representava o lado mais radical da reforma, pois entre os líderes dos camponeses estavam vários Anabatistas. O evento foi muito traumático para Martinho Lutero porque, se por um lado via ecoar a reforma, por outro estava preocupado com a fragilidade que a Alemanha poderia vir a se encontrar mediante o avanço do Império Turco chegando perto de Viena. Lutero acabou de certa forma respaldando a perseguição aos camponeses e por consequência a prisão e morte de alguns líderes Anabatistas.

Depois os Anabatistas reaparecem em Zurique na Suíça em 1525, na ocasião acreditaram que a reforma havia chegado pra valer nos Alpes, e ali organizaram uma igreja com o nome de Anabatista, na época pregavam a separação entre igreja e Estado, este grupo se tornou famoso porque o grande pensador protestante suíço Ulrico Zuínglio fez parte ativamente e defendeu as ideias de uma fé que não tivesse vínculos próximos com o poder terreno. Acontece que Zuínglio depois mudou de ideia e deixou o grupo (alguns dizem que Zuínglio foi convencido por amigos que se não mudasse de opinião poderia perder a vida), logo em seguida a debandada do célebre pensador de Zurique, os líderes e pastores da igreja foram condenados a morte, aquele Cantão da Suíça é até hoje uma comunidade protestante, mas os radicais Anabatistas todos foram desterrados ou lançados no rio.


Os Anabatistas também aparecem num episódio histórico que foi descrito na peça teatral de José Saramago chamada: "In Nomine Dei". A encenação narra parte da história da rebelião de Müster, rebelião que ocorreu durante a revolta dos camponeses que citamos acima, na ocasião um líder Anabatista chamado Jan Matthys tomou o poder da cidade, o que de pronto não combinava com a defesa que o grupo fazia de separação entre religião é governo. Ocorre que Matthys tornou-se um déspota e passou a perseguir os católicos e os luteranos da região, então os próprios Anabatistas apoiaram os grupos católicos e luteranos para que Matthus fosse morto, contudo depois de derrotado, Matthus foi sucedido por João de Laiden, que saqueou a cidade e passou a defender a poligamia, e este também acabou sendo derrotado com o apoio dos próprios Anabatistas que não apoiavam seus atos. Todavia este foi o único evento de violência e maldade que de fato pode ser atribuído aos Anabatistas, e convenientemente Saramago usa esta história para denegrir o grupo. Eu já fiz uma postagem só sobre a infeliz obra deste prêmio Nobel português, e como este ateu confesso foi tendencioso para demonizar os Anabatistas, segue o link desta postagem: http://eradaincerteza.blogspot.com/2016/01/a-repulsa-in-nomine-dei-de-jose.html?q=jos%C3%A9+saramago

Os Batistas, a qual eu faço parte, nasceram obviamente dos Anabatistas, não só nós, mas também os Menonitas, Amishs, e muitos outros grupos cristãos antigos. Mas nós batistas nos esforçamos muito (não entendo porque) por negar nossa origem, talvez na ânsia de parecer mais com um protestante histórico do que com um reformado radical, temos dado mais voz aos saramagos da vida do que ao sangue destes homens e mulheres que foram nossos precursores.

Mas uma história, como disse, pouco contada, sobre os Anabatistas do passado, que infelizmente parou de ecoar em nossos registros é a de um anabatista chamado Dirk Willems.

Por vollta de 1540 muitos Anabatistas fugidos da Alemanha e da Suíça foram buscar abrigo na Holanda, e foi então que um certo padre de nome Menno Simon ouviu a pregação destes Anabatistas largou a batina e se tornou um deles, Menno acabou sendo um grande líder Anabatista holandês e formou um grupo muito grande de seguidores. Foi então que um destes anabatistas falou sobre Jesus para um certo homem chamado Dirk Willems, até então ele era católico, nascido em criado na pequena cidade de Asperen, mas a mensagem de Cristo calou tão fundo no coração daquele homem que ele se tornou um grande pregador, mas não só isso, era conhecido por sua mansidão, bondade e humildade, ele passou a carregar em si as marcas de Cristo. 

Dirk passou a reunir pessoas em sua casa e pregava sobre Jesus, sua casa se tornou praticamente uma igreja, e isto repercutiu até chegar nos ouvidos do tribunal da inquisição. Em 1569 Dirk foi preso e levado para um tribunal católico onde foi condenou a morte na fogueira. 

Ocorre que na mesma noite fria, após ser levado para o cárcere, ele conseguiu fazer uma corda usando lençóis e fugiu; contudo ao chegar ao solo um dos guardas o viu e deu o sinal aos outros policiais, então começou uma perseguição, Dirk correu e parecia que iria conseguiu fugir. 

Foi quando o impensável aconteceu, um dos guardas tentou cortar caminho para alcançar Dirk correndo por um lago congelado, mas o gelo quebrou e ele caiu na água gelada. O guarda então começou a gritar por socorro.

Dirk então ao ouvir os gritos de seu perseguidor e entendeu que deveria fazer uma escolha, e ele decidiu por fazer o que Jesus pregava, amar até os seus inimigos, ele então volta e tira o guarda que o perseguia das águas geladas, mas ao salvar o guarda, os outros policiais o alcançam e o levam de novo para a cadeia.



 Em 16 de maio de 1569 Dirk Willems foi morto na fogueira da Inquisição. Mas a sua morte causou tanta comoção porque a história de que ele havia salvo o guarda correu toda a Holanda, e isto fez com toda a Holanda repensasse sua relação com a religião, de maneira que a nação dos países baixos foi uma das primeiras do mundo a começar a dar liberdade de culto; mas não só isso, o amor que ele demonstrou por seu algoz, fez com que o grupo de Anabatistas crescesse tanto, e sua fama chegou até a Inglaterra, e foi por isso que dois ingleses vieram para Amsterdan por volta de 1600 e se juntaram aos Anabatistas até que fizeram surgir em solo holandês a primeira igreja denominada Batista, ao qual faço parte.

Sendo assim, parte da liberdade que temos hoje no ocidente, parte dos direitos individuais que temos hoje nas nações desenvolvidas, parte da liberdade de culto e de religião, assim como em parte os milhões de batistas espalhados pelo mundo, sem falar das outras igrejas que nasceram a partir da nossa, tudo isto em parte se deve a este holandês, verdadeiramente um cristão na essência da palavra.

Meu desejo neste Natal de 2021 é que eu consiga viver uma prática de vida cristã tão intensa quanto este homem do passado viveu, e que tenhamos menos pastores que visam apenas o lucro, menos irmãos cheios de vaidade, menos homens e mulheres carregados de hipocrisia, que tenhamos menos irmãos que pensam só em si, cheios de "ego" e mais, muito mais Dirks em nossas igrejas.

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