Páginas

sábado, 5 de julho de 2014

"Os Miseráveis" - Um Breve Ensaio Sobre a Vida e obra de "VIctor Hugo" e quem são os Verdadeiros Miseráveis


Em geral os francesas são muito orgulhosos de sua nação, de sua história, e dos personagens que marcaram sua história, e no caso do fantástico poeta e escritor Victor Hugo realmente eles devem se orgulhar.


O trabalho mais famoso de Victor Hugo foi publicado em 1855. "Os Miseráveis" foi sucesso de critica e público assim que foi lançado, na verdade quando este livro foi lançado causou um reboliço no mercado literário daquela época porque vários editores queriam os direitos para publicar esta obra em seus idiomas.

"Les Miserábles" é uma obra imensa, Victor Hugo escreve livros separados para cada um dos seus principais personagens e foi desta forma que ele narrou a história como pano de fundo. Ele fez desta forma porque na verdade queria narrar a luta das pessoas, seus dilemas, seus sonhos, suas frustrações.

Há até quem diga que o livro não tem um personagem central, porque ele é composto de vários livros e cada livro conta a história de um dos personagens, e é desta forma que a narrativa se sucede; mas existe sim um personagem central que é Jean Valjean porque a princípio as histórias narradas dos personagens parece desconexa, isto é, o leitor tem a impressão que são histórias soltas de pessoas que não necessariamente  se relacionam entre si, mas quando chegasse ao livro que conta a trajetória de Jaen Valjean o leitor entende que é na história dele que todos os outros personagens se interligam, então ele sim é o personagem principal da trama.

Por ser assim "Os Miseráveis" tornou-se um livro extremamente grande, (a última edição lançada em português tinha quase duas mil páginas em dois volumes, apesar que isto em parte se deve também as várias notas de rodapé), mas mesmo sendo tão extenso, o livro vendeu muito assim que foi lançado.

Um dos detalhes que torna o livro muito grande é que ele é muito descritivo, Victor Hugo narra cada mínimo detalhe sobre cada personagens, além de lugares, batalhas, e cidades. Isto acontece porque além de Victor Hugo ser um homem de um conhecimento vastíssimo, ele também fez uma longa pesquisa de campo para produzir "Os Miseráveis", ele entrevistou prostitutas, meninos de rua, esteve nas galés, e conversou com várias pessoas, pois sua intenção era descrever várias mazelas da sociedade. Isto torna em alguns momentos a leitura do livro muito pesada, mesmo assim, em muitas listas literárias ele aparece como o segundo livro mais lido do mundo perdendo apenas para a Bíblia.

Antes de fazermos uma breve resenha do livro em si, vamos falar mais um pouco de quem foi Victor Hugo.

Ele era um tipo muito raro de ser humano que consegue juntar dentro de uma só personalidade um carácter muito forte, e ao mesmo tempo ter uma incrível sensibilidade humanista, capaz de sentir o sofrimento e a dor dos seus semelhantes, além disso era romântico, apaixonado, e devoto. Como se nada disso bastasse ele era rico e lutava incessantemente pelos ideais democráticos, tanto que chegou a ter que viver alguns anos como exilado político por ter desagradado autoridades com suas críticas ácidas aos governos ditatoriais que a França teve depois de Napoleão.

Victor Hugo nasceu em 1802 e faleceu em 1885, seu pai foi um dos generais de Napoleão, e sua mãe parecia gostar da monarquia, mas conforme se tornou um homem influente, ele defendeu ardentemente ideais democráticos.

Sua família era prospera, e o sucesso de seus romances lhe rendia ainda mais dinheiro, então ele tinha o melhor que o dinheiro podia comprar em sua época. Contudo diferente de outros ricos que vivem alienados das lutas do povo, Victor Hugo se sensibilizava muito com a dificuldade da vida dos mais pobres.

A França depois da derrota de Napoleão mergulhou numa profunda depressão econômica. Pior que isso foi ver que Napoleão foi sucedido por vários governos ditatoriais, isto entristecia muito o povo que havia lutado tanto para depor o rei, e depois de tudo que haviam passado sua nação ainda era governada por déspotas.

Nos anos 1830 vários estudantes idealistas se juntaram a uma multidão de miseráveis e promoveram um levante popular que foi massacrado por forças militares, mas aquele evento marcou profundamente a vida de Victor Hugo. As barricadas erguidas no meio das ruas foi uma referencia para que "Os Miseráveis" fosse escrito. Foi nesta época que ele começou a escrever o livro.

Contudo Victor Hugo queria escrever um trabalho completo, narrando a vida das pessoas, para tanto ele esteve nas galés conhecendo a vida dos prisioneiros que eram forçados a concertar os navios abatidos em guerras, esteve entre as prostitutas, entrevistou meninos de rua, e fez uma grande pesquisa de campo. Todavia ele acabou interrompendo o trabalhou e parou de escrever este livro.

Na vida amorosa Victor Hugo teve um casamento problemático mas nunca se separou da família, contudo teve várias amantes, até que conheceu Juliette Doruet com quem teve um grande romance, e ela foi sua amante pelo resto de sua vida.

Outro aspecto fantástico da vida de Victor Hugo era sua religiosidade. Ele próprio se dizia um cristão católico, mas frequentemente ele é taxado de "espírita", isto porque ele buscava (e afirmava ter tido) experiências com seres espirituais, mas por outro lado ele acreditava que quando o homem morre vai se encontrar com seu criador, esta ideia está bem mais próxima dos princípios bíblicos do que dos princípios espíritas. Victor Hugo acreditava muito em Jesus Cristo, isto porque, segundo ele mesmo narrou, ele teria tido algumas visões do próprio Jesus.

Alguns acham que ele era louco, pois além de dizer que teve visões de Jesus, ele afirmou certa vez que fazia contato com seres celestes, e já tinha tido visões com pessoas falecidas a muitos séculos. Numa destas experiências ele disse ter conhecido William Shakespeare. Victor Hugo chegou a ser ironizado por ter dito que Shakespeare tornara-se seu amigo e havia dito que poderia ter escritos algumas de suas peças em frances que ficaria mais bonito.

Quando estava doente e sabia que iria morrer, ele deixou instruções para que parte do seu dinheiro fosse doado para os pobres e disse aonde queria ser enterrado, também disse que recusava as orações das igrejas pois ele acreditava em Deus. Mas não creio que ele estava desprezando a fé, mas estava afirmando que a oração deles era desnecessária pois ele acreditava que estava indo encontrar o seu criador.

Como dissemos, ele começou a escrever "Os Miseráveis" por volta dos anos 1830, mas como sua proposta era uma obra extensa e completa, ele acabou interrompendo a produção da obra por falta de tempo. Quase vinte anos depois, em 1852, Victor Hugo teve que sair de Paris por causa de seu ativismo político, e foi para o exilio na ilha de Jersey, levou consigo sua família e arrumou uma casa para a amante Juliette alguns quarterões de onde ficou com a família.

Durante o período que estava na ilha de Jersey Victor Hugo afirmou ter tido outras experiências espirituais, ele chegou a dizer que viu anjos, conforme seu depoimento tais seres cobraram dele que deveria concluir sua obra sobre o sofrimento dos mais pobres, foi então que ele se pôs a concluir a história de "Os Miseráveis". Alguns críticos dizem Victor Hugo fez na verdade uma jogada de marketing afirmando ter tido estas visões, particularmente, tenho algumas ressalvas sobre alguns aspectos destas experiências espirituais de Victor Hugo, até por ser um cristão protestante, mas sinceramente duvido que ele faria uma "jogada de marketing", era idealista, um apaixonado, visionário, mas nunca mercenário.

Espiritualidades a parte "Os Miseráveis" foi lançado em abril de 1862, para se ter uma noção da dimensão do sucesso desta obra, o livro foi lançado simultaneamente em 8 capitais mundiais e em Paris foram vendidas mais de sete mil exemplares em apenas 24 horas, algo nunca antes imaginado no mercado editorial naquela época.

Victor Hugo faleceu em Paris 1886, autor de dezenas de livros centenas de poemas e incontáveis frases que nos inspiram até hoje.

Sobre "Os Miseráveis" já afirmamos que é um livro muito grande, e por isto nunca as adaptações para o cinema ficaram boas, creio que a história é muito complexa e difícil de ser contada  na grande tela devido ao prazo curto de tempo dos filmes; todavia em 1980 os franceses fizeram um musical contanto toda a história do livro, o musical ficou muito bom porque as letras contaram a histórias e as melodias davam a real dimensão das emoções vividas no romance de Victor Hugo. Em seguida no anos 1990 o musical ganhou uma versão no idioma inglês e conquistou a Broadway tendo sido um dos maiores sucessos de toda a história da própria Broadway. Para se ter uma ideia, calcula-se que mais de 60 milhões de ingressos foram vendidos em todo mundo nas exibições deste musical, o que faz dele o maior sucesso de renda de todas as histórias do teatro.

Então em 2012 o cinema se rendeu ao musical, mesmo sabendo que este gênero de filme a muito tempo perdeu o apresso do público, ainda assim o diretor Tom Hooper ariscou-se e conseguiu trazer para o cinema toda a beleza desta obra levando para a tela o musical famoso na Broadway.

Vamos tentar, em linhas gerias, contar a história narrada neste texto fantástico.

O principal protagonista do livro é Jean Valjenan (Valjean é algo como "vale do Jean"). Valjean havia sido preso por roubar pão para alimentar sua irmã e seus sobrinho. Ele foi condenado a cinco anos, mas por tentar fugir ele fica um total de 19 anos preso em trabalhos forçados nas galés que concertavam navios de guerra.

Valjean foi solto em condicional mas a prisão fez dele um homem amargurado. Até que ele recebe abrigo numa igreja e o bispo local o trata com dignidade, dá a ele um lugar de repouso mas ele não resiste a tentação e rouba a prataria de uma igreja, contudo quando foi preso o padre não presta queixa, pelo contrário, o padre diz ao policial que o prendeu que havia dado a prataria para Valjean, depois o padre diz para Valjean que não prestou queixa para que ele tivesse uma chance de recomeçar a vida.

Valjean pega a prataria da igreja e foge, muda de identidade e passa a se chamar Sr Madeliane e usa o dinheiro da prataria para montar uma fábrica numa cidade do interior da França. A fábrica prospera e Valjean se torna prefeito da cidade. O criminoso então acaba se tornando um homem rico e respeitado mas isto muda quando chega na cidade um novo chefe de policia chamado Javert, este policial havia conhecido Valjean na cadeia e logo percebeu que o prefeito daquela cidade parecia muito com o homem que havia fugido da condicional.

Em meio a esta situação, na fábrica de Valjean existe uma funcionária chamada Fantine, ela é mãe solteira e é demitida quando descobrem que ela é mãe solteira. Ela apela para Valjean mas ele está tão atordoado com a preocupação do policial não reconhece-lo que não dá importância ao pedido desesperado da moça.

Dias depois sr Madeleine encontra e reconhece Fantine entre as prostitutas da cidade, ela está em meio a uma briga na rua, e acaba presa por desrespeitar um propenso cliente. Madeleine então resolve se colocar diante do policial mesmo sabendo que ele podia reconhece-lo como sendo o fugitivo Valjean, ele interpela em favor da moça e a tira das mãos de policial.

Fantine está doente e ele a leva a um hospital. Só então ela conta que sua filha está sobre os cuidados de um certo homem chamado Thénardier e sua mulher, este casal tem uma estalagem e está exigindo cada vez mais dinheiro para cuidar da menina que se chama Cosette, e ela está desesperada para arrumar dinheiro para que sua filha fique bem cuidada.


Fantine estava muito desfigurada, antes uma moça tão bonita, havia raspado o cabelo e vendido a uma mulher que fazia perucas, também havia arrancado alguns dentes para vende-los, (na época as próteses e as dentaduras eram feitas de forma rudmentar usando dentes veradeiros) Valjean se comove profundamente e se arrependende por não ter socorrido a moça quando ela ainda trabalhava para ele.

Jean Valjean, ainda como sr Madeleine deixa Fantine no hospital e passa a visita-la. O livro então deixa no ar que surge o amor entre os dois, mas o problema é que é tarde de mais para Fantine, o estado de saúde dela se agrava e ela não deixará o hospital com vida. No momento de sua morte Valjean estava ao seu lado e antes que ela morra ele jura que vai resgatar sua filha e vai cuidar dela como sendo filha dele. Assim Fantine morre em paz sabendo que sua filha seria amparada por aquele homem rico.

Contudo neste meio tempo ele descobre que um outro homem foi preso confundido com o fugitivo Valjean. A principio ele pensou que isto era ótimo porque outra pessoa ficaria presa em seu lugar, mas depois a consciência pesa e é quando confessa que não é o Sr Madeleine mas sim o fugitivo Jean Valjean. O comissário Javert o prende mas novamente ele consegue fugir, e sua fuga desesperada se justifica porque ele quer cumprir a promessa feita para falecida Fantine que vai resgatar Cosette.

Antes disto ele esconde sua fortuna e premedita como agir para manter seu dinheiro bem guardado.


Valjean encontra a pequena Cosette em posse dos Thénardier, e descobre que ele é um homem mal que submetia Cosette a trabalhos pesados e ela vivia em condições precárias apesar de todo o dinheiro que Fantine mandava para eles.

Como disse, Victor Hugo está usando a história para descrever diversos problemas sociais, como a dificuldade do ex presidiário se recolocar no mercado de trabalho, a prostituta e os motivos que levam as mulheres a se prostituir, e agora ele estava falando do flagelo da exploração do trabalho infantil. Tem-se a impressão que toda a história é um pano de fundo para que Victor Hugo denuncie os problemas sociais.

Valjean leva Cosette consigo mas para tanto os Thénardier exigem que ele pague $1500 francos.

Javert está perseguindo Valjean, mas ele consegue fugir com a menina e levando também sua fortuna se escondendo em Paris. Nos anos seguintes Valjean vive em Paris, escondido da polícia, mas gozando de seu dinheiro, na verdade, mesmo foragido ele consegue investir bem e multiplica ainda mais sua fortuna. Valjean cria Cosette como se fosse sua filha, ela é meiga e doce, enche o coração dele de alegria e toda a amargura do passado sumiu graças a experiência de criar esta garotinha.

Interessante percebermos que a forma como Victor Hugo narra demonstra que aquele homem que foi pobre e presidiário mas chegou a condição de rico a ponto de ser o prefeito de uma cidade, nunca deixou de ser amargurado por ter subido de classe social, mas foi a experiência de criar Cosette que muda o coração dele.

Mas como acontece sempre, a menina cresce e se torna uma moça linda, Valjean teme perde-la quando ela se envolver com algum rapaz, e ela se apaixona por um estudande de família aristocrata chamado Marius, mas Márius está envolvido com os revolucionários de 1830. Quando explode a revolta Valjean está dividido, tem medo de perder sua filha, mas ao mesmo tempo ele sabe que se o rapaz morrer na revolta popular a tristeza de Cosette será terrível, então ele resolve se envolver com os revoltosos por trás das barricadas para tentar cuidar de Marius.

Por uma ironia do destino ele reencontra o policial Javert, que havia se infiltrado entre os revoltosos mas fora denunciado por um menino de rua chamado Gavroche, e ao falar sobre Gavroche Victor Hugo fala sobre sobre outra mazela social que são os meninos de rua.

O policial iria ser morto pelos rebeldes e Valjean pede para ser seu carrasco, mas na verdade a intensão de Valjean era salva o policial deixando-o fugir, Javert foge atordoado sem entender como aquele homem que ele perseguiu a vida toda o deixou fugir, e enquanto isto Valjean pega Marius baleado e foge pelos esgotos de Paris levando o rapaz até sua casa.

No momento seguinte acontece a parte, que ao meu ver, é o mais emblemático de todo o livro, o policial Javert comete suicídio. Javert entra numa crise tremenda porque na mente dele como pode ter sido salvo por um criminoso? Ele era um homem que vivia em função da letra fria da lei, e não consegue aceitar que as pessoas podem mudar, não entende como o ser humano pode se tornar um homem bom mesmo após cometer crimes. A mente de Javert fica tão confusa que ele se mata.

Na sequência Cosette se casa com Marius mas Valjean desaparece, ele entendia que precisava se afastar de sua filha para que ela pudesse viver uma vida boa com seu marido. Mas Marius e Cosette tentam acha-lo de toda forma, então o mesmo mal carater Thénardier ressurge, ele descobriu aonde Jean Valjean estava e pede dinheiro para Marius para revelar o paradeiro do seu sogro que havia salvo sua viva.

Este é um momento muito interessante da história, porque Victor Hugo narra que Marius paga para que Thénardier diga aonde Valjean está, Thénardier pega o dinheiro e vai para os Estados Unidos tentar ganhar a vida com o mercado de escravos. Penso que é a forma como Victor Hugo demonstra como o mal se reinventa.

Quando Marius e Cosette partem para encontrar Jean Valjean, ele está num mosteiro muito doente. Ele havia escrito uma carta contando para Cosette todos os eventos que aconteceram com ele e com a mãe dela, a intensão era que após sua morte os monges levassem esta carta até ela, mas ela e Márius o encontram e Valjean entrega tal carta pessoalmente, e nos seus momentos finais Marius e Cosette estão ao seu lado, e ele fala para Cosette como sua mãe a amava mas dá a entender que estava vendo Fantine ali  ao seu lado, quando estava quase morrendo um homem pergunta se quer que chame um padre, mas Valjean diz ali já havia um padre, dando a entender que está vendo um padre, ele também insinua que estava vendo Fantine, e antes de morrer ele diz que criar Cosette como se fosse sua filha foi a forma como Deus tirou dele toda a amargura do coração.


Nas adaptações para o cinema e principalmente no musical da Broadway, enquanto morre Jean Valjean está ao lado de Fantine e do mesmo bispo que havia dado a prataria da igreja para Valjean. E é Fantine que segura sua mão quando seu espírito deixa seu corpo.

Desta forma então ele morre, e obviamente aqui Victor Hugo está falando da forma como ele entende a vida espiritual após a morte, afirmando que Valjean finalmente pode se reencontrar com Fantine e com o padre que o ajudou.

Por fim Cosette descobre que seu pai adotivo havia deixado para ela uma grande fortuna, que superava em muito a riqueza da família do próprio Marius, de maneira que o casal pôde iniciar sua vida a dois com muito fartura.

É realmente um livro fantástico e este breve resumo nem de longe traduz toda a história e toda a riqueza do conteúdo proposto por Victor Hugo, contudo existe uma questão no ar; Quem são os miseráveis desta obra?

Miserável seria Jean Valjean? penso que não, ele viveu a princípio com muita pobreza mas depois enriqueceu e a despeito de viver como foragido, vivia com abundancia de bens bem diferente da grande parte da população da França naquela época. Então seriam os jovens que promoveram as barricadas? Também não, eram todos classe média. Fantine realmente viveu na miséria mas sua filha termina como uma moça rica; na verdade a história termina com o jovem idealista e a filha da prostituta criada por um criminoso vivendo felizes para sempre com muito riqueza. O miserável seria Javert? Também não, policial funcionário público, estabilizado, também diferente de grande parte da população. Ou seriam os Thenardier? Penso que também não, pois quando o livro afirma que Thenardier pega o dinheiro dado por Marius para ir negociar com escravos nos Estados Unidos, creio que seria um indicativo que eles também prosperaram oprimindo seus semelhantes, que por sinal era o que eles sabiam fazer de melhor. Então os miseráveis são os milhares de famintos franceses daquele período histórico? Também não, pelo menos não nesta obra de Victor Hugo, porque eles são os figurantes da história.

Creio que Victor Hugo está ampliando a visão de miséria, ele provavelmente estava percebendo a miséria noutro nível, e para entendermos isto devemos perguntar: Quem são realmente os miseráveis na obra de Victor Hugo?

Penso que a miséria que Victor Hugo demonstra está relacionada com a falta de amor, ou focar seu amor no alvo errado.

Por exemplo: Os Thénardier amam o dinheiro, Javert ama a lei, os revolucionários amam o ideal, mas Valjean amou Cossete porque amou Fantine, e criou Cossete com todo amor, como se fosse filha dela, e este amor o salvou.

Estas inclusive são as últimas palavras de Valjean para Cossete, que criar ela como filha com todo o amor que o salvou, e penso que nesta hora Victor Hugo é brilhante porque seu personagem Valjean poderia ter vivido para sempre como próspero industrial, ele já havia saído da miséria quando pegou a prataria da igreja e soube aplicar bem o dinheiro obtido com a venda daquela prata, então a ascensão social não salvou sua alma, ele também chegou a ser prefeito, então ascender como homem público também não o salvou, ainda sim ele estava perdido em sua amargura.

Foi preciso ele amar uma mulher moribunda, criar aquela menina maltratada com todo amor. Foi preciso ele amar até mesmo a Marius que roubou o coração de sua filha querida a ponto de se envolver na guerrilha para salvar a vida do rapaz, e por fim, foi preciso ele salvar até mesmo a vida do policial que o perseguiu a vida toda, poupando-lhe a vida.

Há também um outro aspecto muito importante neste sentido de que o amor o salvou.
Não apenas o livrou da amargura, mas também resgatou sua identidade, pois Jean Valjean muda de identirade para fugir e assume um outro "eu" que era o Sr Madeleine, industrial e político. O problema é que em muitos momentos Valjean não sabem mais quem realmente é. É o amor por sua filha adotiva que resgata seu "eu".
Já fiz uma postagem sobre este tema de que o amor resgata nosso "eu" http://eradaincerteza.blogspot.com/2013/11/a-redencao-de-narciso.html, mas nesta postagem anterior existe a ideia de que o amor por um conjude ou um envolvimento romântico se for equilibrado, pode nos ajudar muito no auto conhecimento, todavia em "Os Miseráveis" este resgate do "eu" se deu num amor assexuado que seria este zelo de Valjean por sua filha adotiva. Creio que Victor Hugo faz isto de propósito, quando ele na sua história não menciona nenhum envolvimento romântico de Jean Valjean, até mesmo por Fantine, acho que realmente o autor queria levar este amor ao nível além do relacionamento físico, e demonstrar que só o amor pode resgatar nossa identidade.

A Bíblia tem um texto escrito pelo Apostolo João (I João 4 verso 8) aonde ele diz que: "Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor". Particularmente não concordo com vários aspectos religiosos do pensamento de Victor Hugo, mas isto não anula em nada minha total concordância com sua ideia transcrita no livro "Os Miseráveis".

Jean Valjean foi salvo pelo amor, este amor fez com que ele se encontra-se consigo mesmo, e este amor o salvou de si mesmo, e ele pode se encontrar com Deus.

Mas persiste a pergunta: Quem são os miseráveis? E a conclusão é simples e óbvia: miséria é não ter amor.
Miseráveis são os que não sabem amar









Um comentário: