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quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O Templo de Salomão, A Igreja Universal, e o Verdadeiro Cristo


Eis que surge no Brás, em plena capital paulista, o templo de Salomão, cheio de riqueza e poder.

A três mil anos atrás o Salomão reinava em Israel, era um governo prospero e bem sucedido, então ele resolveu tornar em realidade o sonho de seu falecido pai o rei David, que era o de construir um grande templo dedicado ao Deus supremo.


Era uma época de muita riqueza em Israel, havia paz em suas fronteiras, Salomão tinha conseguido acordos comerciais entre os Egípcios aos sul e os Fenícios no norte, tais acordos tornaram aquela nação rica como nunca, então Salomão não economizou nesta obra; ele convocou um arquiteto e construtor chamado Hiram Abiff, que era um homem conceituado tanto em sua profissão, como também considerado um homem muito espiritual, e encarregou tal homem na tarefa de edificar este templo.


Existia uma planta de como deveria ser este templo, esta planta estava de posse do rei David, este a entregou a seu filho Salomão antes de morrer. Os textos bíblicos não determinam quem havia rascunhado a planta daquele templo, e uma curiosidade é que especialistas e historiadores afirmam que tal planta era bastante semelhante ao projeto do templo construído pelo Faraó Akenaton muitos séculos antes. Akenaton foi um faraó que tentou implantar no Egito o culto a um único Deus, e muitos pensam que ele foi revolucionário apenas pela ideia do monoteísmo, mas na verdade era uma ideia muito além disso, pois era o conceito de um ser supremo que era invisível e intangível, um ser não material, que existe numa dimensão de vida além da matéria. Então o templo que Akenaton edificou séculos antes para "Aton" que seria o mesmo ser supremo na versão egípcia estava agora nas mãos  de Hiram Abiff.



De posse do projeto, Hiram fez algumas adaptações, e segundo a bíblia tais adaptações foram orientadas pelo próprio Deus, o texto bíblico de II Crônicas cap 4 verso 16 chega a afirmar que Hiram desenhou até mesmo os móveis do templo, além disso ele também fez todas as louças e os talheres que seriam usados pelos sacerdotes.

Quando o templo ficou concluído era absurdamente suntuoso, cheio de ouro e pedras preciosas. E no dia de sua inauguração Salomão reuniu milhares de israelenses e fez uma oração clamando a este Deus que seus espírito estivesse naquele local.

O texto bíblico de II Crônicas cap 7 registra que os milhares de presentes viram labaredas de fogo descendo do céu e os sacerdotes não conseguiam entrar no santuário por causa de uma intensa fumaça de vapor que encheu a casa, e todos estes fenômenos foram atribuídos a presença espiritual de Deus naquele local.

Em 2010 a  "Igreja Universál" intentou fazer uma cópia deste templo no bairro da Brás em São Paulo para funcionar como cede da denominação "cristã", a obra foi concluída no final deste mês de julho de 2014, e na verdade ninguém sabe se ficou igual ou parecido com o templo original de três mil anos atrás, até porque ninguém sabe realmente como foi o projeto do mestre construtor Hiram.

A este respeito existe um fato muito importante, Hiram foi muito reverenciado pelos antigos "Cavaleiros Templários", e ele é até hoje muito reverenciado na "Maçonaria". A princípio esta menção honrosa a Hiram se deve ao fato de ter feito uma obra tão magnífica, mas existe um outro lado místico tremendo, pois muitos acreditam que havia algum mistério na forma como o templo original foi construído, muitos crêem que ele conseguiu abrir algum portal para outra dimensão de existência, por isto a presença do criador supremo realmente se deu naquele local. Muitos também acreditam que tal presença cooperou para que Salomão prosperasse ainda mais, de forma que quando morreu, Salomão era o monarca mais prospero e o homem mais rico no mundo em sua época.

De um jeito ou de outro, Hiram foi morto assassinado pouco tempo depois do templo concluído e o segredo da construção morreu com ele.

Dentro desta história talvez esteja o motivo para que a chamada "Igreja Universal" tenha tentado construir uma réplica deste templo, pois há dentro da prática teológica desta denominação evangélica um forte componente místico, e talvez o desejo de seus líderes seja abrir portais que evoquem a força de Deus para gerar ainda mais riqueza aos seis líderes e seus adeptos

Na verdade não me sinto a vontade em tecer comentários sobre outra "igreja", afinal sendo parte da liderança de uma igreja Batista, pode parecer que estou, como diz o dito popular, "puxando a sardinha pro meu lado"; além disto tenho amigos queridos que la congregam. Todavia pelos mesmos motivo não posso me abster de pontuar os terríveis equívocos da assim chamada "Igreja Universal".

Para o público em geral a grande questão envolvendo a "Igreja Universal" é o fato de uma igreja explorar financeiramente a fé de seus participantes fazendo com que os seus líderes estejam enriquecendo; mas este não é o cerne do problema, existe um aspecto muito complexo que envolve até mesmo a percepção de que a tal "igreja" não pode ser assim denominada como "igreja" cristã.

De fato eles usa o "slogam" em seus letreiros afirmando que "Jesus Cristo é o Senhor", mas na verdade negam completamente o Cristo de Nazaré e negam tudo que Ele representa, então sabe-se lá de qual Jesus eles estão falando, pois em sua doutrina eles não guardam nenhum vinculo com o Jesus propagado na fé cristã.

Um cristão que realmente vivencia a experiência de fé em Jesus Cristo de Nazaré, crê que conforme vários textos bíblicos, Jesus é a manifestação humana do ser supremo que chamados de "Deus". No passado os antigos, mesmo os povos politeístas, acreditavam num ser supremo, que era chamado em "El" em várias culturas, mas quem é este Deus criador?

O texto bíblico conta que Moisés quando teve visões de Deus perguntou "quem é o Senhor?" ao que a voz que falava com ele disse "Eu sou o que Sou" (Exodo cap 3 verso 3) da mesma forma Jesus de Nazaré certa vez se apresentou também assim "Eu sou" (Evangelho Segundo São João cap 8 verso 58). O apostolo Paulo disse a respeito de Jesus que "Ele é a imagem do Deus invisível" (Carta de Paulo aos Colossences cap 1 verso 15). Então o ser divino, antes incompreendido, antes desconhecido, tornou-se como um de nós para que pudéssemos entende-lo e compreende-lo, é isto que crê um cristão genuino.

Jesus nasceu entre os Judeus, povo de forte cultura monoteísta, tanto assim que Salomão que foi rei entre eles construiu um templo a este Deus. Mas a grande questão do monoteísmo judaico é o mesmo aspecto da fé professada pelo antigo faraó Akenaton, não se trata apenas de crer em apenas um ser supremo, mas um ser espiritual, um Deus que não era expressado em figuras humanas nem com esculturas mitológicas. Os judeus desde os primórdios acreditavam neste ser supremo espiritual, que não podia ser visto nem tocado.

Mas mesmo os judeus que desenvolveram este sistema de crenças baseadas na visão metafísica transcendente de que Deus é um ser espiritual; mesmo eles não sabiam ao certo como era este Deus. Em vários textos bíblicos do antigo testamento este Deus surge de forma cruel e severa, em outros um Deus que parece distante ou insensível aos problemas humanos. Mas quando Jesus chega, Ele revela Deus como um Pai cheio de bondade, de amor, de carinho. Jesus revela quem é Deus, revela o caráter e a personalidade deste ser supremo que vai muito além da nossa compreensão.

 A humildade de Jesus fala muito sobre o caráter de Deus, desde os primórdios o homem sempre construiu grandes prédios dedicados ao divino, e quando o divino se revela ele nasce uma manjedoura. O texto dos reis magos que encontram Jesus em Belém é um exemplo disso, eram observadores das estrelas que viram no céu um sinal de chegada do ser supremo, então eles foram para Jerusalém que era a capital, encontram o Rei Herodes, (o que demonstra que provavelmente eram homens ricos e influentes) mas Jesus não estava na capital, nem nos palácios, estava numa cidade satélite, num subúrbio, nascido de forma humilde.

Infelizmente as igrejas teimam e edificar grandes templos, suntuosos como palácios, para um Deus que preferia andar entre os pobres e os excluídos, este é um erro que a igreja Católica cometeu, um erro que várias igrejas protestantes históricas cometeram, e agora a igreja universal comete o mesmo erro em grande escala.



Convém salientar que algumas igrejas protestantes e evangélicas cresceram muito, então alguns templos realmente precisam ser muito grandes, nos EUA a igreja de Lakewood em Houston reúne de 40 mil pessoas todos os domingos, em Sidney na Austrália a Igreja de Hillsong reúne cerca de 35 mil pessoas, na Correa do Sul a igreja presbiteriana de Pyungkang Cheil chega a reunir mais de 60 mil pessoas; então estas congregações realmente precisam de muito espaço, mas tamanho é uma coisa, luxo exorbitante é outra, o luxo desmedido é agressivo e aviltante, ofende os mais pobres, se a igreja cresceu, crescem também as ofertas, e a tendência humana infelizmente é usar o dinheiro tornando o ambiente de culto cada vez mais luxuoso. Tenho certeza que Jesus entende a necessidade de espaço, o que Ele não entende é o dinheiro gasto com luxo desmedido que poderia ser revertido para obras sociais. Mas com disse, este é um equívoco que a maioria das igrejas já cometeu ou ainda comete, e a "Universal do Reino de Deus" não é diferente. Todavia este ainda não é o grande problema da teologia "Universal".

A grande questão que torna a "Igreja Universal" na prática uma igreja anti cristã, é o fato de que eles estão resgatando antigos valores da fé judaica antes da chegada do Cristo, e desta forma a "Igreja Universal" está negando o sacrifício vicário de Jesus. O sacrifício de Jesus na cruz é a força motora do cristianismo nestes dois mil e anos, e o que torna o cristianismo diferente de qualquer outro credo que já existiu.

Em todas as culturas o ser humano sempre buscou o divino com sacrifícios, matavam-se animais, matavam-se crianças, virgens, jovens, etc; o povo via a necessidade de sacrificar pois existia um sentimento de culpa em relação ao divino, além disso os místicos crêem que os sacrifícios liberam grande energia pois todo ser vivo tem muita energia em si, e tal energia liberada é capaz de conectar o homem a outra dimensão. Teorias a parte, na história humana o homem sempre fez sacrifícios para tentar se conectar ao divino.

Não era diferente com os Judeus, mesmo eles tento avançado na percepção de um Deus que existia além da matéria, ainda assim eles também realizavam seus cultos a este Deus sacrificando animais naquele mesmo templo que Salomão havia construído. Os textos bíblicos dão conta de que havia uma espécie de pacto em que Deus aceitava aqueles sacrifícios como forma de culto. Mas no fundo eles mesmos sabiam que tais sacrifícios não tinham realmente valor, até o próprio rei David chegou a dizer no Salmo de número 51 versos 16 e 17 que Deus não quer sacrifícios mas sim corações sinceros.

Quando veio Jesus, e ao ser morto na cruz, sendo ele Deus encarnado; Ele na verdade é que está se sacrificando por nós, é uma total inversão, não é o homem que se sacrifica por Deus, é Deus que se sacrifica pelo homem.


Jesus antes de ir para a cruz celebrou a ceia, a chamada eucaristia, e naquele ato ele disse "Este é o meu sangue que é dado por vós, meu novo pacto" então a morte dele encerrou o pacto antigo aonde o homem se sacrificava por Deus, e iniciou o novo pacto aonde temos Cristo que se sacrificou por nós, e pela sua graça somos salvos.

Se evocar os símbolos de antes de Cristo é como se não reconhecessemos o pacto celebrado por Cristo, e desta forma não teremos parte com o perdão e a remissão dos pecados que ele oferece através de seu sacrifício. Para nós cristãos, todos os rituais, sacrifícios, e cerimoniais de antes caíram por terra, pois Ele mesmo disse que é um novo pacto. Este sim é o grande problema da "Igreja Universal" evocando símbolos de antes da chegada do Cristo, tais como a arca da aliança, a doutrina do dízimo e da oferta como sendo um ato de sacrifício, ou até mesmo o bispo Edir Macedo vestido como Rabino; eles na verdade estão negando o valor do sacrifício de Cristo e tendendo mais para judaísmo do que para cristianismo, e aqui não é nenhuma afirmação anti semita, apenas não se pode auto denominar cristão, se sua prática é não cristã.

Construir uma réplica do templo de Salomão é mais um passo na direção de um credo judaizante que nega o sacrifício do Cristo de Nazaré e rejeita o pacto celebrado na última ceia.

Cristianismo é buscar a paz, não guardar ressentimento, buscar a união, é lutar contra as próprias mazelas, é tentar ser uma pessoa melhor a cada amanhecer, é saber que nunca estamos sozinhos e que existe alguém superior olhando por nós, saber que a vida não se resume a matéria e que existe vida além deste corpo finito; acima de tudo, cristianismo é amar o meu próximo, como disse o poeta Victor Hugo, "Amar outra pessoa é como olhar a face de Deus".

É uma pena que a "Igreja Universal" esteja falando de um outro Jesus, porque o verdadeiro, se eles conhecessem, saberiam que é maravilhoso.

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