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quinta-feira, 19 de novembro de 2015

"O Banquete" ("O Simpósio") de Platão e as teorias sobre as Almas Gêmeas

Esta é a segunda vez que falo sobre este livro incrível neste meu blog, acontece que Platão conjecturando sobre o "Amor" é uma jornada fantástica e faz de "O Banquete" um dos livros mais tremendos que já foi escrito.

Apenas uma ressalva de que o título em Português, foi traduzido como "O Banquete" mas no original transliterado que seria a tradução mais fiel, é "O Simpósio".

Platão tinha uma forma única de escrever, em geral ele criava situações onde pessoas estavam conversando e debatendo sobre determinados assuntos, e desta forma ele criava conjecturas sobre diversos assuntos. Um leitor desavisado pode até pensar que Platão ara apenas alguém que estava presente quando tais debates ocorreram e anotava o que era dito.

Mas era tudo uma ficção, na verdade Platão costumava pegar emprestado personagens reais, pessoas proeminentes no cenário ateniense quatro séculos antes de Cristo, e atribuía a eles tais diálogos.

Platão sentia uma necessidade inerente a si mesmo, de definir e estabelecer conceitos sobre os mais diversos aspectos de nossas vidas, ele rejeitava a experiência empírica, pois para ele nossos sentidos nos enganam, então havia a necessidade de conceitualizar tais aspectos, estabelecer significados alem daquilo que é experimentado, tocado, e ou vivenciado.

Tendo em vista esta grande necessidade de sistematizar conceitos e definições, Platão imaginava situações onde pessoas amigas debatiam sobre tais assuntos tentando chegar numa definição plausível, Contudo tais diálogos só aconteciam na mente do próprio Platão que na verdade estava argumentando e contra argumentando, debatendo consigo mesmo.

Todavia quando então Platão produzia um livro, ele pegava emprestado personagens reais do cenário da Atenas e atribuía a eles seus argumentos e contra argumentos. Desta forma quando lemos suas obras o que vemos são grande homens daquela época discutindo sobre assuntos diversos e construindo conceitos através de seus debates.

Platão escreveu "O Simpósio" por volta de 380 anos antes de Cristo, e entre os estudantes de filosofia e demais meios acadêmicos, este não é o livro mais lido de Platão, mas entre o público em geral é com certeza sua obra mais famosa, certeza foi o mais vendido e mais lido de todos os livros que ele escreveu, e quando surgiu o império Grego e na sequencia o império Romano, este era um livro extremamente popular naqueles vastos impérios que se sucederam.

A proposta de Platão ao escrever "O Banquete" era tentar tentar definir e conceitualizar o amor, na verdade era uma festa em homenagem ao deus Eros, que seria o deus grego que personificava o amor conjugal, digo isto porque na visão grega, Eros não se aplicava ao amor entre amigo, e nem ao amor entre pais e filhos, ou irmãos. Eros era o amor da união sentimental e do prazer sexual, e em se tratando da Grécia antiga este amor conjugal poderia ser entre homens e mulheres, mas também poderia ser entre apenas homens ou apenas mulheres.

Platão conta que seis amigos foram para a casa de um sétimo, e junto com seus alguns acompanhantes e empregados, realizaram um festim, em homenagem a Eros, e depois de muita bebida e muita comida, já cansados e enfastiados, estes sete amigos sentados num semi círculo, começam a discursar sobre o que cada um deles entendia ser este amor conjugal, e cada um deles e um de cada vez fazia um discurso para definir Eros.

Este encontro teria acontecido na casa de Agatão que era famoso poeta grego além de declaradamente homossexual, e estavam presentes, Pausânias que era advogado e namorado de Agatão, Erixímaco que era um médico muito respeitado em Atenas, Sócrates que era o principal filósofo grego, que foi  acompanhado de um dos seus alunos, além destes outro a discursar foi Febro que era o mais jovem entre os presentes e era um orador muito eloquente, Alcibíades que era um político bastante popular em Atenas, e Aristófanes, que era um comediante, ele produzia peças teatrais cômicas, e adorava ironizar e satirizar Sócrates.


O primeiro a discursar foi Febro, depois Pausânias, o terceiro foi Erixímaco. O quarto a discursas seria Agatão, mas o anfitrião engasgou e começou a tossir, então ele deu o lugar para o comediante Aristófanes para que fosse o quarto a discursas.

Depois de Aristófanes foi a vez de Agatão (que havia superado o engasgo), depois de Agatão foi Sócrates, e por último o político ateniense Alcibíades.

Platão em alguns dos seus livros, entre os discursos, ocasionalmente inseria uma narrativa, ou uma lenda, que funcionaria como metáfora defendendo a linha mestra das suas ideias. Foi assim por exemplo quando Platão mencionou Atlântida, foi assim também no famoso conto do "Mito da Caverna", e foi assim também em "O Banquete".

Quando Aristófanes iria discursar, ao invés dele proferir conjecturas, ele contou uma história muito antiga e muito estranha sobre como eram os seres humanos no início da existência de nossa espécie. Aristófanes contou esta história, que seria a lenda sobre como num passado remoto, os seres humanos eram andrógenos, tendo quatro braços, quatro pernas, duas faces, e ambos os sexos.

Mas antes de falarmos sobre o discurso em si de Aristófanes, um detalhe curioso e quase um trocadilho que Platão faz, é o fato de que Aristófanes foi o quarto a falar, porque se pensarmos em sete pessoas discursando, o quarto discurso é o discurso central, afinal foram três discursos antes e três discursos depois. Platão inclusive narra toda aquela história de que Agatão seria o quarto a discursar mas deu o lugar a Aristófanes porque engasgou, evidenciando que por uma fatalidade, uma ironia, que deu ao comediante Aristófanes o discurso central daquele simpósio. Também é curioso que este mesmo discurso central, que não é um discurso mas uma narrativa, foi feito por um comediante, que gostava de implicar com Sócrates, afinal Platão era aluno e um grande admirador do seu mestre Sócrates, e de repente ele pega emprestado um sujeito que adorava debochar de Sócrates para atribuir a ele o discurso central de seu livro, onde sete caras meio bêbados tentam definir o amor. É quase uma grande brincadeira de Platão, e uma forma de dizer como o amor é carregado de ironia, e cheio de contrassensos.

Em todos os discursos do "Banquete" Platão ressalta que neste amor conjugal o fator preponderante é o desejo, obviamente vamos nos focar na lenda atribuída a Aristófanes, mas um dos discursos que é muito intrigante e curiosos é o de Pausâneas, porque ele era advogado e namorado de Agatão, mas Pausâneas além de homossexual tinha um apresso pela pedofilia, e em sua fala ele tenta argumentar quase que juridicamente, buscando a legalidade para a prática da pedofilia, seria Platão percebendo como manipulamos nossa perspectiva de mundo em favor de atender nossos desejos. Este é apenas um breve exemplo da riqueza de detalhes deste livro, mas não temos como abordar tamanha profundidade neste blog, vamos nos ater apenas na lenda contada por Aristófanes, porque ela é extremamente curiosa e intrigante. Obviamente a historia contada como discurso central tem o objetivo de explicar e justificar este ponto de vista que é a tônica de tolo o livro, explicando e defendendo a ideia de que o desejo seja o fator preponderante na união conjugal.

Vejamos então em linhas gerais o que disse Aristófanes como personagem do Banquete:


Aristófanes conta que no início da humanidade os seres humanos eram andrógenos, pelo menos a maioria deles, eles tinham formato arredondado, quatro braços e quatro pernas, uma cabeça com duas faces.

Apesar de seu aspecto estranho eles eram muito inteligentes, bem articulados e dinâmicos. Aristófanes diz que quando corriam eles rolavam sobre as quatro pernas e quatro braços dando cambalhotas perfeitas, de maneira que quando era necessário eles eram muito ágeis. Alguns eram apenas homens dos dois lados e outros eram apenas mulheres dos dois lados, mas a maioria deles era metade homem metade mulher.

Mas num determinado momento eles resolveram subir para ir até Zeus, e formaram uma pirâmide humana, uns sobre os outros, até chegarem no alto do Olimpo. Convêm lembrar que Aristófanes os descreve como sendo muito bem articulados e capazes de tais peripécias. Contudo quando os primeiros despontaram na presença dos deuses, Zeus se irritou com aquele desaforo e resolveu puni-los.todavia Zeus não queria destruí-los, afinal eles faziam templos e adoravam os deuses, destruí-los seria um desperdício, então Zeus com seu raio cortou todos ao meio e eles caíram e ao caírem eles se embaralham e ficam desesperados por encontrar sua outra metade.

Na sequencia da narrativa, Platão transvestido de Aristófanes conta que após terem sido divididos ao meio os seres humanos ficaram tentando encontrar sua outra metade e começaram a morrer, então Zeus mudou a direção dos seus órgãos genitais, e fez do sexo a forma de reprodução e a partir daquele momento as mulheres passaram a engravidar, a fim de que pudesse perpetuar a humanidade. Mas os seres humanos que antes da divisão eram apenas homens de ambos os lados, e os que eram apenas mulheres também de ambos os lados, quando divididos passaram a desejar seus iguais desejando pessoas do mesmo sexo, e desta forma o discurso de Aristófanes tentava também dar uma explicação para o homossexualismo.

Esta é em linhas gerais a narrativa de Aristófanes, e existem incontáveis nuances de onde podemos conjecturar questões a partir desta narrativa. Tudo leva a crer que esta era uma narrativa muito antiga, muito anterior a Platão, assim como a história de Atlantida que Platão também menciona noutro de seus livros, mas o que se percebe é que a história é contada de forma a corroborar a percepção da força do desejo na união tanto heterossexual como homossexual.

Antes de prosseguir na análise sobre a história contada por Aristófanes, quero ressaltar como salta aos olhos que algumas destas narrativas antigas mencionadas por Platão, além de outros contos gregos, guardam semelhanças com textos da  bíblia. Por exemplo a ideia de que os homens foram divididos segundo Platão, e se olharmos a bíblia veremos que a mulher foi tirada do lado de Adão, ou ainda a visão dos homens fazendo uma pirâmide humana para chegar até  Zeus, enquanto na bíblia encontramos a torre de babel, além disso o fato de que os homens iniciais não morreriam, e a morte veio após sua divisão, enquanto o mesmo é dito na bíblia com a diferença de que na bíblia a morte vem por causa da desobediência. Isto tudo sem falar que quando Platão noutro livro escreveu sobre Atlântida, a narrativa dele guarda muitas semelhanças com a narrativa bíblica do dilúvio quando a sociedade da época foi destruída pelas águas.

Os críticos da Bíblia, os ateus, e etc, afirmam que a Bíblia guarda estas semelhanças com outros contos, porque é uma cópia e uma compilação de várias histórias antigas, mas quem afirma isto desconhece completamente os estudos mais profundos sobre as origens destes textos, a grande questão é que encontramos estas semelhanças tanto em textos sumérios, como egípcios, gregos, judaico cristãos, hindus, e nos demais povos antigos, porque provavelmente haja uma origem comum a todos eles, e nalgum momento num passado distante no início da história humana estas histórias nasceram de uma única fonte. O que torna isto inquietante para os incrédulos e os céticos é o fato de que as várias versões de uma mesma história possa estar na verdade corroborando para percebermos que estas coisas realmente aconteceram. É como o próprio Jesus, que alguns dizem nem se quer ter existido, mas as várias versões das histórias contadas sobre Ele acabam atestando que Ele realmente existiu.

Voltemos então ao conto proposto por Platão personificado em Aristófanes. Platão está nos falando que o desejo nasce a partir de nossa divisão, e isto nos daria a percepção que não estamos completos, nos falta algo, ou alguém. O sexo surge como a tentativa humana de se reconectar com sua metade perdida, mas ele não resolver o problema, de maneira que é apenas um paliativo, e por isto o desejo nunca se satisfaz. Zeus estaria nos punindo torando-nos incompletos, e isto gerou em nós um desejo eminente e inerente a todos nós, algo que ecoa em nossa essência.

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Curioso imaginarmos que seres de quatro pernas e quatro braços podem ser ágeis, versáteis e dinâmicos, e chega a ser engraçado imagina-los correndo, na verdade rolando sobre seus oito membros. Mas a ideia de Platão era dizer que o ser humano quando era composto de duas metades unidas, era extremamente mais bem resolvido e mais apto.

Contudo o texto acaba dando uma perspectiva muito além da ideia platônica de desejo incontido, Há quem diga por exemplo que imagina-los unidos rolando sobre seus oito membros seria o mesmo que o conceito de Ying e Yang, pois este símbolo evoca que quando vemos duas figuras semelhantes de polos de energia opostos, eles se equilibram e é este equilíbrio que faz o mundo girar, igual quando como os astros celestes entram em orbita uns dos outros, e é o equilíbrio destas forças que gera o movimento.

Estas ideias nascidas a partir do conto de Patão, dão margem a que muitos autores vinculem a ideia contida na narrativa de Aristófanes com as ideias e as teorias das chamadas "Almas Gêmeas". Alguns até acreditam que as histórias sobre almas gêmeas surgiram a partir deste texto de Platão, mas isto não é verdade, até porque é um conceito que a semelhança daquelas histórias bíblicas de que mencionei anteriormente, aparece em várias culturas antigas com variáveis de acordo com os conceitos culturais e isto pode estar corroborando a possibilidade de que realmente haja algo neste sentido.

Não foi Platão então que criou a ideia das almas gêmeas, e na verdade não podemos ignorar que certamente esta não era a intensão dele, sua ideia era buscar uma narrativa antiga e usa-la para exemplificar seu conceito sobre o "Eros". Contudo como dissemos é provável que esta história já fosse conhecida pelos gregos, e chegou até nós pelo livro de Platão dando margem a incontáveis outras ideias. É o mesmo aconteceu na história de Atlântida, onde Platão usou a narrativa daquela sociedade desaparecida para exemplificar as ideias que ele narrava no livro "Timeu" e depois no outro diálogo chamado "Crítias". De maneira que Platão tinha um propósito ao narrar ambos os textos, mas eles dão margem a várias outras interpretações que vão muito além da proposta inicial de Platão.

Sendo assim, surgiu a ideia de que o ser humano que achasse sua metade seria mais evoluído, e isto deu munição para aqueles que acreditam que existam almas que são ligadas além deste mundo físico. O que muitos fazem é unir ideias contidas no que Platão escreveu e atribuiu a Aristófanes com a Cabala, pois a Cabala, que é a antiga visão exotérica do judaísmo, dizia que as almas são geradas em pares antes dos corpos físicos, como se não bastasse, mistura-se a isto as ideias orientais onde também se acredita nas almas gêmeas desde tempos remotos, e pronto, temos um prato cheio de centenas de teorias, algumas respeitáveis, enquanto outras são alucinadas.

Quero fazer uma pausa neste raciocínio para ressaltar como Platão influenciou tremendamente nossa cultura ocidental, hoje em dia por exemplo é raro encontrar alguém que tenha lido "O Banquete", na verdade a maioria de nós nem se quer sabe que este livro existe, mas vez por outra ouvimos alguém afirmar que está procurando sua "cara metade". e esta afirmação obviamente nasceu a partir da narrativa do Andrógeno no livro de Platão.

Mas voltando as ideias sobre as Almas Gêmeas, hoje existe uma salada de teorias, e elas se misturam formando um misticismo que acaba atrapalhando a percepção do que pode ser real. Existe também muita ignorância religiosa pois este é assunto que evoca a religião, o próprio Platão mencionou Zeus, e o desejo e a percepção de estarmos incompletos que tem a ver com nossa formação, quem nos criou, porque nos fez assim? Um exemplo desta ignorância religiosa está na ideia de muitos cristãos de que este assunto de almas gêmeas é uma heresia, mas quando lemos a bíblia no texto de Marcos Capitulo 8 quando Jesus diz que quando se unem homem e mulher serão uma só carne, sabendo que nos tempos de Jesus "O Banquete" era um livro bastante popular, não estaria Jesus ventilando a possibilidade de que esta união desfeita no conto de Platão, pudesse ser refeita? Além disso há um personagem bíblico chamado Jacó, que foi o pai da nação Israelense, percebemos que ele só foi quem foi porque era tremendamente apaixonado por sua prima Raquel, com quem se casou. Há também quem pense que este é um assunto do espiritismo de Kardec, mas se lermos Alan Kardec veremos que ele criticava contundentemente quem acreditava nas almas gêmeas, porque tal teoria negaria a sua ideia de que as almas estão em planos diferenciados de desenvolvimento e evolução espiritual. Mas se formos no espiritismo hindu, isto ganha outro vulto, eles não apenas acreditavam nas almas gêmeas como diziam que elas tem três níveis, as três categorias de almas gêmeas são a "Cármica" onde a pessoa se liga a outra e ambos pagam caro por esta união, sofrem para pagar alguma culpa doutra vida, outro nível seria a "Dhármica" onde as pessoas se unem e geram prosperidade e riqueza para ambos, mas não existe um sentimento forte entre eles, e isto muitas vezes gera tristeza, ou em outros caso traições, pois não se  realizam emocionalmente; e a última categoria seria a "Cósmica" e este seira exatamente aquele que projeta ambos para um sentimento de completude e realização plena.

Estou mencionando isto apenas para que se perceba que este assunto é muito complexo, e talvez a nós só reste a possibilidade de conjecturar que se tantas culturas evidenciam isto, é provável que haja uma origem comum e algum fato verídico, mas a verdade está meio que perdida em um mar de teorias por vezes fantasiosas.

Vamos encerrar com a seguinte ideia: Se existem almas gêmeas separadas como na história de Platão, e se elas podem se reconectar, como identifica-la?

Vejamos quem poderia ser nossa metade a luz do que contou Platão, mesmo sabendo que não era isto que Platão queria dizer quando contou esta história.

Primeiro se os dois podem voltar a ser apenas um, devem se sentir completos, e isto anularia o desejo por outros, afinal o desejo nasceu da ausência, mas a partir do momento em que a ausência foi suprida, o sentimento é a completude, seria a fidelidade que nasce não da lei da religião, mas da completude.

Segundo se o conto de Aristófanes descreve um ser desenvolvido, esta união seria algo que levaria os dois, que passariam a ser apenas "um", a um nível mais elevado de vida, haveria neles uma realização, e um desenvolvimento, e um crescimento. A união deste nível tem que promover o desenvolvimento mútuo, sendo assim, conjecturando no conto de Platão, ninguém que te detone e te derrube, ou jogue para baixo, seria sua alma gêmea.

Por último se existe tal pessoa que possa ser "um" com outra, tais pessoas devem ser iguais, uma figura feminina outra figura masculina, opostos sim, contudo iguais. O dito popular afirma que os opostos se atraem, mas não se trata do oposto no sentido de ser alguém totalmente diferente, vejamos por exemplo o fio de cobre, um polo positivo, outro polo negativo e pronto, flui a energia elétrica, mas ambos os lados tem de ser fios de cobre; não poderia fechar esta conexão se usar um material de um lado e outro material do outro lado. Então são polos opostos da mesma essência. Poderíamos conjecturar então que quanto mais parecidos, mais chance de haver esta conexão intensa, afinal os dois voltarão a ser apenas um, e isto não seria possível se forem diferentes um do outro.

Fiquemos por aqui, já conjecturamos além da conta, ainda mais sabendo que não era esta a ideia de Platão, mas surge uma última e crucial questão, resistiríamos a encontrar alguém que seja igual a nós? Mutas vezes não somos bem resolvidos, e preferimos alguém que seja totalmente diferente como companheiro (a), mas nesta conjectura que fizemos, percebemos alguém muito diferente de nós não pode ser nosso gêmeo, ainda assim muitas vezes preferimos pessoas diferente de nós, porque temos dificuldade de aceitar quem somos. E se isto for verdade, seria nossa dificuldade de auto aceitação, o grande vilão para que não encontremos nossa alma gêmea. É uma conjectura, seria realmente a dificuldade de auto aceitação que nos leva a perder de vista quem seria a pessoa capaz de ser "Um" conosco?

Sendo assim, neste nosso apócrifo platônico, poderíamos cometer a heresia de afirmar que o grande entrave para que encontremos nossa alma gêmea é nossa falta de auto conhecimento e de auto aceitação.

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