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quinta-feira, 23 de março de 2017

A Revolução Francesa, Maximilien Robespierre ,e a Operação Lava Jato


Em geral não uso meu blog pra assuntos desta natureza, mas desejo compartilhar algumas ponderações sobre nosso atual estado político.

Foram décadas de mobilização para que o povo pudesse ver um novo amanhecer, mas não estou a falar sobre nossa condição tupiniquim, falo da revolução francesa. Parte da elite intelectual francesa tinha plena noção que era necessária uma mudança no Estado francês que foi por séculos governado por duas famílias que se alternavam no poder da coroa. Os Bourbuns e os Capetos se alternaram por mais de quinhentos anos no trono de Paris e nunca haviam governando se não para si mesmos e para uma pequena elite aristocrática.

E levou muito tempo até que esta elite pensante conseguisse mobilizar o povo, que mesmo pobre e massacrado, não estava mobilizado o suficiente para se dispor a combater o governo monárquico. Para que esta mobilização ocorresse foram necessários anos, na verdade décadas. Um dos mais importantes nomes deste processo foi o pensador suíço Jean-Jacques Rousseau que acabou sendo o filósofo mais didático de toda a história, ele procurava escrever de maneira que todos pudessem compreender, mesmo os mais humildes, infelizmente Rousseau veio a falecer pouco antes da revolução aos 66 anos, e não pode ver o resultado de seu trabalho.

Mas não foi apenas Rousseau, vários outros escritores, pensadores, se empenharam nesta tentativa de contagiar o povo com um ideal democrático de um Estado com plenos direitos civis. Poucos anos antes as únicas publicações impressas que chegavam nas mãos dos mais pobres eram sobre os escândalos sexuais na coorte, mas naquela época onde não existiam mídias sociais, vários homens se mobilizaram também para distribuir material impresso que pudesse abrir a mente da população, para a necessidade de que houvesse uma mudança na nação francesa.

Na época a corrupção estava instalada, desde o trono da coroa, até o dia a dia do povo nas ruas, muito semelhante ao que existe hoje no Brasil, havia na França daqueles anos uma corrupção endêmica.

Resultado de imagem para robespierrePor fim em 1789 o povo foi para as ruas, e a bastilha caiu, o rei fugiu mas foi reconhecido por causa de seu rosto estampado nas moedas dos francos e depois de dois anos em 1792 foi preso e em 1793 foi guilhotinado. O parlamento foi instituído, e rapidamente surgiram duas correntes políticas uma de centro direita e uma de centro esquerda. Parecia ter raiado um novo dia na França.

Foi quando ascendeu ao parlamento um Jacobino jovem com apenas 33 anos chamado Maximilien Robespierre. Tornou-se membro deste partido político dos Jacobinos em 1790 e era chamado "O  Incorruptível". Robespierre tinha tudo pra realmente cooperar para este novo amanhecer na França, era filho de um relojoeiro calvinista, e tinha aprendido as melhores ideias da reforma protestante e do iluminismo.

Sua presença no parlamento era importante porque parte da igreja católica também não compactuava com as ideias da revolução, principalmente as propostas de um Estado laico.

Mas no ano de 1792 ele foi o mais ferrenho defensor de que o rei deposto fosse morto na guilhotina e isto lhe rendeu muita fama, o povo que vibrou com a morte de Luiz XVI passou a ver Robespierre como o grande líder da revolução. Robespierre parece que foi tomado pela fama que sua radicalização lhe rendeu e passou a defender uma revolução muito radical. De fato por vezes nossa necessidade de autoafirmação nos faz perder o foco e ele certamente passou a se autoafirmar através da defesa radical da Revolução Francesa.

A forma como Robespierre usou a radicação da revolução até como forma de autoafirmação pode ser facilmente percebida pelas datas, em janeiro de 1793 Luiz XVI foi guilhotinado, e em junho daquele mesmo ano este próprio Robespierre criou um comitê chamado Comitê de Salvação Pública, com o intuito de perseguir e matar inimigos da revolução, a partir dai ele começou um reinado de terror, onde centenas de pessoas foram mortas na guilhotina, e como cada morte alimentava a fama de Robespierre, ele parece ter sito tomado por uma febre insana onde muitas pessoas boas e honestas foram mortas injustamente.

Ele passou um ano matando gente indiscriminadamente até que em meados de 1794 ele condenou a guilhotina um outro político muito querido chamado Jacques Danton, Danton era advogado e também membro do partido dos Jacobinos, tinha apenas 34 anos e durante um tempo foi o líder deste comitê, mas ao perceber os desmandos de Robespierre ele tentou frear os desmandos de Maximilien, ao que Robespierre o acusou de traidor e o arrastou também para a guilhotina.

Esta foi a gota d'água para que os outros parlamentares se opusessem a Robespierre, então naquele mesmo mês ele foi preso e foi a vez dele ser morto na própria guilhotina que ele se valia para adquirir fama.

Robespierre acabou se tornando uma grande mal para a França porque seus desmandos abriram caminho para que Napoleão subisse ao poder. Napoleão se tornou um tirano e a democracia acabou caindo, foram necessários mais de cinquenta anos para que a França pudesse finalmente ter um governo democrático de direitos e a miséria continuou sendo algo comum nas ruas de Paris graças a ao radicalismo e a falta de equilíbrio na condução das mudanças.

Mas o que isto tem a ver com a Operação Lava Jato?

Se continuarmos a ver uma total parcialidade na forma como apenas um determinado grupo político está sendo combatido, ou mesmo alguns políticos específicos são levados aos tribunais e as prisões, enquanto outros são anistiados, fica evidente que estamos diante de uma radicalização semelhante aquela da revolução francesa, onde só os inimigos são guilhotinados. A revolução que interessa ao Brasil é a revolução da dignidade, não da parcialidade, e assim como Robespierre colocou tudo a perder, e jogou fora anos de luta para que a sociedade mudasse, assim também este risco está a nossa porta, e infelizmente talvez a história se repita, e em se tratando de Brasil, ela sempre se repete um pouco piorada.



 


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