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sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Um breve texto sobre a tragédia da Pós Modernidade

Resultado de imagem para unidade na diversidade

A afinal o que seria esta tal de "Pós Modernidade"?

Impossível abordar este conceito de forma breve, até porque se trata de um movimento que envolve as mais diversas manifestações humanas, sociais, artísticas e culturais da sociedade, mas vamos pensar este conceito apenas do ponto de vista das relações humanas.

Na Idade Média existia a ideia de que a relação com Deus era vinculada a coletividade, e esta ideia era alimentada pelo catolicismo que se valia deste conceito para manter sua hegemonia.

Quando veio a reforma, os reformadores passaram a pregar que as pessoas tivessem acesso livre aos textos dos evangelhos, e que este homem deveria buscar interpretar livremente as verdades que o texto lhe apresentava, foram então feitas traduções dos escritos para os diversos idiomas europeus e isto fez com que a experiência do homem passasse a ser vista como uma relação com Deus é individual, e com a popularização da reforma e das igrejas evangélicas, isto ajudou a fortalecer o conceito renascentista que privilegiava a singularidade humana, e foi assim que nossa sociedade foi moldada nos últimos 500 anos, quando o ser humano se deu conta do valor de sua singularidade.

Mas esta modernidade deu lugar à pós modernidade, onde passou a ocorrer uma exacerbação desta ideia de singularidade, neste novo momento o indivíduo passou a viver numa bolha onde ouve apenas a si mesmo (ou quem concorda consigo), a pós modernidade é um tempo do narcisismo doentio, quando procuramos apenas o reflexo de nossa imagem.

Curiosamente os antigos gregos que durante o despertar da sociedade ocidental perceberam o valor da singularidade humana, perceberam também o perigo do narcisismo, e enquanto a inscrição do templo de Apolo dentro do Oráculo de Delphi, intimava o homem a conhecer a si mesmo, a lenda de Narciso contava sobre um herói que não conheceu a si mesmo, mas buscou contemplar a si mesmo, e acabou se autodestruindo, sendo assim, a pós modernidade não é a era do autoconhecimento, mas a era da autocontemplação, e se os gregos estiverem certos, é também a era da autodestruição.

Curiosamente uma estranha coincidência pairava sobre a Grécia Antiga, porque todo ateniense que peregrinasse para o Oráculo, deveria passar pela região onde segundo a lenda teria vivido Narciso, a região onde teria vivido Narciso estava entre Atenas e o Oráculo, como se no meio do caminho para o autoconhecimento estivesse o perigo da autocontemplação.

Hoje as redes sociais por mais estranho que pareça, pioram muito este quadro de autocontemplação, pois os indivíduo usam estas redes não para perceber o contraditório, mas sim para ecoar seu ego alimentando seu narcisismo como nunca antes ocorreu em nossa história.

Mas voltemos a Sagrada Escritura, nos textos dos evangelhos percebemos nas palavras de Jesus a busca de um equilíbrio entre individualidade e coletividade, o que equilibraria a percepção humana de sua singularidade e evitaria a autocontemplação, pois enquanto na individualidade o homem perceberia a si mesmo, na coletividade o homem perceberia o próximo, o que evitaria a exacerbação de seu narciso, podemos perceber esta preocupação de Jesus claramente quando lemos suas palavras conforme nos transmitiu o texto de Mateus, na verdade no evangelho segundo Mateus percebemos dois textos que revelam exatamente este equilíbrio, no primeiro a individualidade, é o texto de Mateus capitulo seis quando encontramos Jesus orientando e ensinando como o ser humano deveria fazer suas orações, e neste texto ele diz que a pessoa deveria se trancar no quarto e falar com Deus que o vê em secreto; isto obviamente remete a busca individual, singular e pessoal do ser humano; mais adiante Jesus prestigia a coletividade no texto de Mateus capítulo dezoito, quando Ele afirma que o que ligardes na terra será ligado no céu, e que tudo que concordarem será feito, e que quando dois ou mais estão reunidos em seu nome, Ele estará no meio Deles, claramente aqui Jesus procura prestigiar a unidade na diversidade, o que seria a coletividade construída através da percepção do outro. Desta forma, conforme a pregação do Cristo as duas experiências são igualmente importantes, tanto o estar a sós com Deus, quanto o estar junto dos irmãos buscando a Deus.

Mas não se trata apenas de estamos juntos, precisamos nos libertar desta tragédia de ouvir apenas a si mesmos, perceber apenas a si mesmo, e querer ecoar apenas seu narciso; antes devemos estar atentos a quem está ao nosso redor. Quando Jesus disse para aquele cego no texto que descreve a cura de um cego em Jericó Ele pergunta ao cego: "O que queres que te faça"? Como se estivesse dizendo: Eu vou ouvi-lo, vou atentar para você.

A coletividade não pode ser uma mera experiência onde replicamos esta inútil perspectiva das redes sociais onde apenas procuramos indivíduos que nos ajudem a ecoar nosso ego, a coletividade deve se contrapor a esta tragédia humana da pós modernidade fazendo da coletividade a experiência de perceber o outro, perceber o diferente, aprender com isto e transformar esta experiência numa unidade na diversidade.





















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