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sexta-feira, 26 de abril de 2019

A Proporcionalidade e o Apocalipse

Muito se fala sobre a inscrição que havia no templo grego dedicado ao deus Apolo, que convidava o homem ao autoconhecimento, "Conhece a ti mesmo" dizia o aforismo grego. Mas o geógrafo grego Pausaneas, escreveu em 160 DC um livro sobre a Grécia antiga e neste livro ele nos conta que o mesmo grupo de sete sábios, que haviam colocado esta inscrição, também colocou outra placa ao lado desta, onde estava escrito "Nada em Excesso!"

Nada mais atual que esta urgência em se perceber o valor da proporcionalidade.
Esta é uma "Era" que perdeu o senso de proporcionalidade, o pop rock britânico dos Holling Stones nos anos 1970 já dizia que ele queria satisfação, e ele queria mais e mais, mas não conseguia ter esta satisfação, o pop rock brasileiro do IRA no final dos anos 1980 em seu refrão também dizia "eu quero sempre mais", e na lanchonete fast food a atendente diz que por mais tantos dinheiros pode aumentar a bebida ou a porção do alimento, e muitas vezes cedemos a este apelo porque imaginamos que o "mais" nos trará a satisfação tão desejada por Mick Jagger.
Perdemos de vista que tudo que é bom tem necessariamente o limite de tempo e de proporcionalidade, o que é bom, e o que nos satisfaz acontece no tempo certo e na proporção certa.
Alguns minutos com um certo alguém, valem mais que anos com outrem, uma taça de um precioso vinho satisfaz muito mais do que barris de outros.

Há também aqueles que pensam que a privação absoluta, a falta absoluta, isto sim nos satisfaz, que cultuam a escassez e acreditam que a satisfação está na ausência.
Se privam de tantas coisas, mas o vazio por definição não pode preencher nada
É sem dúvida uma sociedade doente, incapaz de perceber o valor da proporcionalidade
Esta geração desesperada por satisfação não consegue perceber que a satisfação está naquilo que não é nem muito nem pouco, mas é na medida certa.
Um remédio em excesso vira veneno, e um veneno na medida certa é remédio.

E o Apocalipce o que tem a ver com este senso de proporcionalidade?
Para muitos ele é um livro misterioso cheio de enigmas  e segredos que alimentam a imaginação tola dos mesmos que são incapazes de estarem satisfeitos, mas ele é na verdade um livro extraordinário onde encontramos a revelação, e este é na verdade seu título original.
No texto do Apocalipse, no capítulo 10, João comeu um livro, e este livro era doce na boca mas amargava em seu ventre, esta é uma clara referência a necessidade que o ser humano tem de se alimentar do conhecimento divino, da busca pela sabedoria, e de uma perspectiva mais profunda de sua vida, e as palavras de Deus são doces, mas também amargas, porque em muitos momentos elas nos enchem de esperança, mas em outros momentos somos confrontados, e como ninguém gosta de ser confrontado esta palavra se torna amarga.
Pois bem, após comer o livro, virando para o capítulo 11, logo no verso 1, João recebe uma vara de medir, isto me faz lembrar de minha avó, quando ia numa loja de tecido, e comprava alguns metros de pano para costurar uma roupa, e lá o vendedor tinha uma tira de madeira que media um metro, e ali ele media o tamanha do tecido que ela iria comprar.
João recebeu uma peça desta de madeira, para medir o santuário de Deus, seu templo e seu Altar


  E foi-me dada uma cana semelhante a uma vara de medir; e chegou o anjo, e disse: Levanta-te, e mede o templo de Deus, e o altar, e os que nele adoram - Apocalipse 11 verso 1

Depois de experimentar a presença do criador, de ver seu séquito, e de comer o livro que Ele lhe deu, João pôde entender que tudo que é relativo ao Deus criador, e o que espiritualmente nos remete a este Ser criador; seu templo, seu altar, seu povo, absolutamente tudo; tem a medida certa, nem mais nem menos, nem muito nem pouco.
De maneira que quanto mais nos aproximarmos de Deus, mais entenderemos que não é o exagero, nem a falta, mas a proporcionalidade das coisas, no tempo e na medida,
Sendo assim, é a nosso proximidade com o divino que nos faz perceber que as coisas boas são aquelas que tem o tempo certo e a medida certa.

E quando dizia isso no passado, Santo Agostinho foi questionado: E o amor? Existe também uma medida para o amor? Ao que ele respondeu: Sim, até para o amor existe medida, e a medida do amor, é amar sem medida.


2 comentários:

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    1. Agostinho entendia que a medida do amor é o infinito, pois conforme o texto do livro bíblico de I João capitulo 4 verso 8: "Deus é amor", e não há limites para Deus. Ocorre que ele percebe isso na perspectiva do amor de Deus, porque os gregos tinham várias palavras para definir amor, e faziam uma clara distinção do amor divino e as manifestações que chamamos de amor entre nós humanos. Sendo assim, por este pensamento de Agostinho, esta ideia do amor cujo o limite é o limite do infinito só se aplica ao amor conforme o texto bíblico que diz: O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
      Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
      Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
      Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

      1 Coríntios 13:4-7

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